São Paulo pesquisa variedade de café resistente ao aquecimento global

Em 2040 a temperatura de São Paulo estará 3 graus centígrados mais alta, que inviabilizará a cultura do café

Por: Quarta-feira, 18 de Abril de 2007 às 15h06

De acordo com estudo divulgado pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, feito em conjunto com a Embrapa-Informática a partir de dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), em 2040 a temperatura de São Paulo estará 3 graus centígrados mais alta. Segundo o estudo, essa elevação poderia inviabilizar a cultura do café no estado. Trata-se de uma previsão prematura, segundo técnicos como Luiz Carlos Fazuoli, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Até porque as pesquisas no setor avançam no sentido de desenvolver tecnologias para driblar essa questão. 


É o que está fazendo Fazuoli e uma equipe de 15 técnicos do IAC. No momento, eles estão empenhados numa pesquisa que visa justamente desenvolver uma nova espécie de café resistente a altas temperaturas. Ainda em fase inicial, o estudo está trabalhando com uma variedade de café derivada do cruzamento entre a espécie Robusta e Arábica. Segundo Fazuoli, a nova variedade, ainda sem nome definido, se mostrou eficiente nos primeiros ensaios realizados nas regiões mais quentes do estado. 


“Acredito ser muito precoce afirmar-se que o aumento da temperatura traria riscos aos cafezais de São Paulo. O trabalho desenvolvido através de pesquisas já nos permite concluir que o efeito da alta temperatura pode ser amenizado”, pondera o pesquisador. Ele recorda de um episódio envolvendo a praga da ferrugem que atingiu cafezais de alguns países no final da década de 50. “Quando se registrou os primeiros focos no Brasil, na década de 70, o IAC já tinha estudos para prevenir esse mal”, lembra Fazuoli. 


Cultivo irrigado 


Além da pesquisa em curso, outras iniciativas do IAC já estão ajudando os produtores a resolver a equação temperatura alta e cultivo de café. Duas variedades desenvolvidas pelo instituto, a Catuai Vermelho e Catuai Amarelo, mostram-se resistentes ao calor. De acordo com o pesquisador, novos sistemas de produção com essas variedades resultaram em aumento da lucratividade. E, melhor, permitiram levar a cultura do café para regiões antes improdutivas, como o cerrado existente não só em São Paulo, mas no Triângulo Mineiro e em outras regiões de Minas Gerais. 


Embora a média da temperatura ideal para produção de café fique entre 18 a 21 graus, já foram feitos testes bem sucedidos com as duas espécies  em Pirapora, Minas Gerais, onde a temperatura chegou a 26,4 graus. “Nesse caso, a irrigação foi um fator determinante para obtermos o resultado desejado”, explica Fazuoli, que tem  37 anos de trabalho sobre genética e melhoramento cafeeiro no IAC. 


Essas espécies também estão sendo plantadas em larga escala em áreas irrigadas na Bahia e outras regiões quentes de Minas Gerais, com temperatura média anual em torno de 26 graus. Nessas áreas, a produtividade chega a cerca de 60 sacas de café por hectare contra as 20 sacas da média nacional.


Papel do IAC


As atividades desenvolvidas no Instituto Agronômico de Campinas não se limitam ao desenvolvimento de variedades de café. Incluem também a geração e transferência de soluções tecnológicas para o agronegócio do café do Brasil e no exterior, além do treinamento de futuros pesquisadores. 


“Países como Costa Rica, Colômbia, Guatemala e México usam as nossas matrizes. Todas foram produzidas pelo IAC”, orgulha-se o pesquisador, que foi contemplado neste ano com o prêmio Frederico de Menezes Veiga 2007. Das mais de 100 variedades de café existentes no Brasil, 64 foram descobertas no IAC ao longo das últimas décadas. 


Os números do IAC revelam que variedades como Icatu Vermelho, Icatu Amarelo, Icatu Precoce, Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Acaiá correspondem a 90% do cultivo brasileira de café arábica, totalizando cerca de 6,2 bilhões de cafeeiros e 2,3 milhões de hectares somente em solo paulista.


Cleber Mata

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