Passeio de bonde equivale a aula de história do café

  Bode antigo – Foto assessoria
Ícone da revitalização do Centro Histórico de Santos, o bonde da Linha Turística terá mais 1,2 Km de trilhos para seduzir santistas e turistas. A entrega do primeiro trecho de ampliação, na terça-feira (28), comemorando o centenário da implantação do bonde elétrico na cidade, aumenta o trajeto para 2,9 Km. Percurso que a prefeitura vai expandir para 5 Km, ao longo de 40 pontos turísticos.


O roteiro equivale a uma verdadeira aula de história.


Praça Mauá
Sob pérgola que protege contra sol e chuva, o ponto de partida corresponde ao Marco Zero de Santos. Esse Marco Distrital Padrão está guardado no interior de uma peça em granito negro de 1,20 m de altura, vedado em tubo concretado a 35 cm abaixo do nível do terreno. A praça conta ainda com o busto de quem lhe dá o nome, o Visconde de Mauá, figura de proa do empresariado brasileiro do século XIX, além da “Ninfa com Concha”, réplica de uma estátua que se encontra nos jardins do Palácio de Versailles.


Praça Rui Barbosa
As linhas barrocas da Igreja do Rosário – imortalizada como refúgio de escravos foragidos – servem de fundo para o monumento ao santista Bartolomeu de Gusmão, o “padre voador”. Com seu aeróstato de ar quente, ele foi o precursor da navegação aérea.


Rua do Comércio
Esta rua pode parecer familiar para o Brasil inteiro, já que vira e mexe é cenário de novelas. Uma delas foi “Um So´ Coração”, da Rede Globo. Na primeira travessa acha-se outra “estrela” das telonas e telinhas: a Rua XV, que já passou por restauro. É o endereço da Construtora Fênix, antigo Palácio da Banca Italiana Di Sconto, o primeiro do Centro Velho a ser recuperado, e da Bolsa de Café. Nessa encruzilhada, todas as noites de sexta-feira acontece animado happy hour. Denominações como Exportadora de Café Guaxupé, Unicafé, Edifício Rubiácea, Hamburg Süd e Aliança Navegação e Logística vão revelando as bases da economia local no século passado. O gracioso sobrado amarelo da Incubadora de Empresas antecede a Delegacia da Receita Federal, que ocupa prédio com vestígios do neoclassicismo no frontão triangular das janelas. Fica na esquina da Rua João Ricardo, outrora Rua do Sal, que terminava no Porto do Bispo. Dali se exportava a mercadoria, já tão preciosa na época dos romanos que acabou originando a palavra “salário”, para designar o pagamento dos soldados com sal. Segue-se o Espaço Cultural Frontaria Azulejada, em que sete mil peças, em branco e azul, revestem a fachada. Tanto essa edificação como o sobrado em frente, com toques do neocolonial brasileiro, pertencem à Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams). Daí até o Largo Marquês de Monte Alegre pode-se observar o casario que ocupa os dois lados da rua, multiplicando portas e janelas encimadas por bandeiras de ferro em arco, emolduradas por umbrais e vergas de pedra. São antigas moradias, por vezes coroadas por platibandas e com balcões guarnecidos de guarda-corpos de ferro que se alternam com balaustradas de coluninhas, volta e meia sustentados por cães de pedra. Na onda da restauração, o Projeto Alegra Centro oferece isenções fiscais às firmas que revitalizarem os imóveis para se estabelecer na região.


Largo Marquês de Monte Alegre
Expõe a beleza barroca da Igreja de Santo Antônio do Valongo, que possui um dos raros tronos rotativos do País. A seu lado, a Estação Ferroviária Santos Jundiaí, cuja instalação se deve a Irineu Evangelista de Sousa, o visconde de Mauá, hoje é sede da Secretaria de Turismo de Santos. Com ares da arquitetura vitoriana, apresenta telhado em declive – que nas regiões frias evita o acúmulo de neve – , e três leões simbolizando o poderio britânico. Os Casarões do Valongo, situadas em frente, serão recuperadas para abrigar o Museu Pelé.


Rua Tuiuti
A área deteriorada do cais está com os dias contados. Em oito armazéns – um dos quais serviu de locação da novela “Terra Nostra” – será implantado um Complexo Náutico, Turístico, Cultural e Empresarial. Antes da construção do porto, era ali o local nobre do município, à beira da praia. Na confluência com a Rua Frei Gaspar destaca-se o Palacete Mauá. Mantém as linhas arquitetônicas originais e resiste ao tempo como a residência mais antiga de Santos, embora posteriormente tenha sido ocupada por várias firmas, até mesmo o Banco Mauá. Por volta de 1887 foi ocupada pela Hard Rand e Cia. Do outro lado, pode-se admirar de perto a fachada traseira da Bolsa Oficial de Café, onde estátuas representando a Indústria, o Comércio, a Lavoura e a Navegação ornam a torre de 40 m do relógio. E só para contrariar a fama de “cidade cafeeira sem um único pé de café”, no canteiro da Praça Azevedo Jr. foram plantadas três mudas da famosa rubiácea. Ali ficam os fundos do prédio da Associação Comercial de Santos, entidade de classe pioneira do Estado, e o sobrado da ‘Inspectoria de Immigração do Porto de Santos’, cuja função era instruir, informar e encaminhar os imigrantes que desejassem se fixar no Estado.


Praça Barão do Rio Branco
Contemporâneos, os prédios do Banco do Brasil e da Receita Federal contrastam com o monumento a Eduardo Cândido Gaffrée e Eduardo Guinle, no centro da praça. Eles ganharam concessão para exploração do porto por 90 anos, em troca da construção do cais, no final do século XIX. O trecho inicial, de 260 m, tinha sido inaugurado por Brás Cubas, em 1892. Passado ainda mais distante ganha forma nos traços barrocos da Igreja da Ordem Terceira do Carmo – em cujos retábulos se acham representados os passos de Cristo até o Calvário – bem como na Igreja da Ordem Primeira do Carmo, que dispõe de altares folheados a ouro. Ao lado dos templos, o Panteon dos Andradas guarda os restos mortais de José Bonifácio de Andrada e Silva e de seus irmãos, santistas que moveram céus e terra pela causa abolicionista e da independência do Brasil.


Praça da República
Exibe a primeira estátua erguida na cidade e que homenageia Brás Cubas, fundador da vila e do primeiro hospital do País. Outro destaque é a Alfândega, idealizada nos padrões do ecletismo, com linguagem neoclássica e influência art-déco. Mais de 60 janelas são protegidas por grades de ferro, com desenhos simulando grãos e folhas de café, produto cuja exportação por muito tempo foi o carro-chefe do progresso de Santos.


Rua Visconde do Rio Branco
O novo trajeto do bonde passa ao largo da Casa do Trem Bélico, localizada na Rua Tiro Onze. Depósito de munições e acessórios de artilharia para abastecimento de quartéis e fortes, tem características arquitetônicas de 1734 e está em processo de restaauro. O próximo ponto, marco da fundação do município, é o Outeiro de Santa Catarina, desbastado para obtenção do aterro destinado à construção do porto. Sobre a rocha restante foi edificada uma casa acastelada, atual sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams). Em 1902, a pedra recebeu uma placa com os dizeres: “Esta rocha é o resto do Outeiro de Santa Catarina e foi sobre este outeiro que Brás Cubas lançou os fundamentos desta povoação, fundando ao mesmo tempo, época de 1543, o Hospital de Misericórdia, sob a invocação de Todos os Santos, que deu nome a esta cidade e à primeira instituição pia que se estabeleceu no Brasil”.


Rua da Constituição
O terreno do Outeiro que alcança a Constituição ganhou uma praça no ano 2000, resultado de parceria com a empresa Multicargo.


Rua General Câmara
Como na Rua do Comércio, o casario da Gal. Câmara está na berlinda das boas oportunidades de negócios em Santos, já que o Projeto Alegra Centro oferece isenções fiscais às firmas que recuperam os imóveis para se fixar na região. Ali fica o prédio de A Tribuna, jornal mais importante da Baixada Santista.


Augusto Severo e Cidade de Toledo
No pequeno trecho da primeira rua nota-se a fachada traseira do Palácio José Bonifácio, sede da Prefeitura Municipal. Na segunda estão os Correios e Telégrafos, construção de inspiração neoclássica em cujas janelas e portas o tema do café é recorrente nas grades em que o ferro imita folhas e grãos da rubiácea.


Praça Mauá
Antes de chegar ao ponto final, vale observar o Paço Municipal, arquitetura eclética com influência neoclássica. A fachada principal possui rampa para automóveis e majestosa escadaria, que termina ladeada por duas estátuas. Uma representa o comércio, na figura do deus romano Mercúrio, que corresponde a Hermes, na mitologia grega. A outra mostra a deusa romana Minerva, que é a Palas Atenas da Grécia Antiga e simboliza a sabedoria, a ciência e as artes.


Mais informações sobre os monumentos de Santos podem ser encontradas no livro “Esculturas Urbanas”, da jornalista Rosângela Menezes, com fotos de Tadeu Nascimento.
 

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