Pesquisador da Embrapa Rondônia seleciona fungo para controle biológico da broca-do-café

Pesquisador da Embrapa Rondônia seleciona fungo para controle biológico da broca-do-café 


Enquanto muitos cientistas pesquisam maneiras de controlar fungos, graves ameaças ao cultivo de plantas, um pesquisador da Embrapa Rondônia passou os últimos quatro anos selecionando cuidadosamente os mais letais. É que o objetivo do trabalho, uma tese de doutorado, foi isolar as variações de fungo Beauveria bassiana mais eficazes no combate à broca-do-café, a principal praga da cafeicultura no Estado de Rondônia. O controle biológico do inseto é uma alternativa mais barata e menos prejudicial ao meio ambiente e à saúde do agricultor do que o uso de inseticidas químicos.
 
O trabalho teve início com 47 variações do fungo, chamadas de isolados. Eles foram, separadamente, aplicados sobre populações de broca em laboratório. O pesquisador pode verificar, nos ensaios, quais isolados levaram à morte maior número de insetos. Os índices de eficiência chegaram a 86,7 % nos casos mais letais.
 
Com o resultado da primeira bateria de experimentos, foram eleitos dez diferentes isolados de fungo, os mais eficientes no combate à broca. O passo seguinte foi o teste em campo, para verificar a eficácia do controle biológico na prática. Os quatro melhores isolados foram experimentados no município de Machadinho do Oeste, em Rondônia. Para finalizar o processo de avaliação da tecnologia, deverão ser testadas diferentes concentrações e épocas de aplicação.
 
Inimigo natural
 
O pesquisador José Nilton Medeiros Costa, da Embrapa Rondônia, autor do trabalho, explica que a Beauveria bassiana infecta naturalmente a broca-do-café em quase todas as regiões onde o inseto está presente. O fungo se desenvolve na broca e cria uma cobertura de aspecto branco, que pode levá-lo à morte em 72 horas. Para efeito de comparação, uma fêmea do inseto vive cerca de 150 dias.
 
A aplicação do fungo na lavoura utiliza o mesmo pulverizador desenvolvido para agrotóxicos. É importante preparar a solução com a concentração adequada de fungo para que ele tenha condições de iniciar o processo infecioso na broca. A vantagem é que não existe risco de contaminação para quem manuseia o pulverizador e os impactos no meio ambiente são consideravelmente menores que o provocado pelos químicos. Não existem relatos de desequilíbrio ecológico por conta da utilização do fungo.
 
A principal praga do café
 
A broca-do-café, Hypothenemus hampei, é a principal praga das lavouras de café do tipo robusta, o mais cultivado no Estado de Rondônia. Regiões de baixa altitude e temperaturas elevadas favorecem o desenvolvimento do inseto. Em um dos levantamentos realizados pela Embrapa Rondônia em época de colheita, foram verificadas infestações de 34% a 41% em lavouras do Estado, índices considerados preocupantes.
 
Ao perfurar o grão de café, a broca deixa uma porta de entrada para água, contribuindo para o apodrecimento do fruto. Os insetos nascem e vivem dentro dos grãos, que podem ser infestados por mais de 20 brocas. Somente as fêmeas saem para perfurar e colonizar novos frutos, dando assim prosseguimento à multiplicação e disseminação da praga. A depreciação do valor do café comercializado e a perda de peso na safra são alguns dos prejuízos causados.
 
Além do controle biológico, alguns cuidados na hora da colheita ajudam a reduzir os prejuízos com a broca. É importante colher o café maduro. Deixá-lo por mais tempo na planta favorece a ação dos insetos. Outra medida eficaz é a retirada de todos os frutos do cafeeiro, para evitar que a broca permaneça na lavoura e infeste a safra seguinte.
 
A pesquisa realizada nos laboratórios e nos campos experimentais da Embrapa Rondônia foi defendida em Manaus, no começo desse ano, como tese de doutorado no Programa de Pós-graduação em Entomologia do Instituto de Pesquisas da Amazônia, Inpa. Os experimentos finais ainda estão em andamento e as informações consolidadas poderão, posteriormente, orientar a produção comercial dos isolados do fungo.

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