A Montanha e o café

23 de maio de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião

Cláudio José Fonseca Borges
Produtor de café no município de Alpinópolis/MG, pecuarista e administrador de empresas
 

Um café irrigado não sente os efeitos da bienualidade. Com uma produtividade maior, o custo da saca diminui. Numa lavoura onde os tratos culturais e a colheita são realizados com o uso de máquinas, os custos de produção (principalmente mão-de-obra, que representa algo em torno de 50% do total dos custos de uma lavoura na montanha) se reduzem substancialmente. Ter as duas condições simultaneamente é o que podemos chamar de uma atividade lucrativa, pois é competitiva e produz com a mesma qualidade a commodity (matéria-prima) produzida nas regiões de montanha.


Uma lavoura na montanha, dependente intestinalmente de mão-de-obra para tudo, NÃO é sustentável nas atuais circunstâncias. Custos elevados de mão-de-obra, insumos, adubos, etc inviabilizam as lavouras de montanha do sul de Minas em propriedades com características de empresa rural. A quebradeira não é maior porque a informalidade impera.


Sem competitividade (custos de produção superiores aos preços praticados atualmente), o cafeicultor de montanha vê sua empresa ruir enquanto outros (de lavoura irrigada numa terra maquinável) prosperam produzindo a mesma commoditie, em outra região do país. O resultado desse cenário conflagrou a Marcha de Varginha em 16 de março deste ano.


O que o governo pode fazer numa hora dessas?


Apenas dar subsídios, pois está provado que é inviável produzir café de montanha sem ajudas governamentais. Mas dar subsídios para produtores que não conseguem produzir em quantidade e qualidade o que muitos outros conseguem? Pode parecer contra-senso e até certo ponto inaceitável. Devo receber ajuda porque não consigo produzir no mesmo custo do meu concorrente? Concorrente é concorrente… concorre e quer ganhar, quer te tirar do mercado e ponto final.


A Ford, a Crysler, a GM/Crevrolet devem permanecer no mercado fazendo carros beberrões e super caros enquanto a concorrência faz carros mais compactos, que bebem e poluem menos e são mais baratos que os das ex-três gigantes? Não, é claro que não! Na revolução industrial, quem não investiu nas novas máquinas que surgiam a cada momento perdeu a competitividade e saiu do mercado.


Tentou , como tentam agora os cafeicultores de montanha, continuar a produzir totalmente dependente de mão de obra, numa realidade cada vez mais presente de investimentos em maquinários. A única máquina que surgiu para nós cafeicultores de montanha foram as maquininhas de colher: melhorou, mas não resolveu o problema dos altos custos. Nós, os cafeicultores de montanha estamos numa sinuca de bico…


Se não dá para mexer nos elevados custos de produção, o cafeicultor de montanha tem que investir em qualidade para aumentar os preços, e até mesmo para justificar um custo tão elevado de produção. Certificação da propriedade pode ser uma caminho se o produtor também conseguir vender sua bica corrida diretamente ao consumidor final. Sua fazenda também pode cair nas graças de algum gringo importador, e aí você produz com exclusividade e garantia de mercado.


Associar-se pode ser outro caminho, com redução de custos e até mesmo pensando numa seleção de grãos e vendas no varejo. Agora, continuar produzindo caro e vendendo barato tem um limite, que é a força, a coragem (o capital) de cada um. Fica aí uma pergunta: por que subsidiar cafeicultores de uma região se em outra região, próxima, se produz com a mesma qualidade e mais barato?


No meio do caminho tem uma montanha!


 

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