Sindicatos estão insatisfeitos com atuação de Bertone

Sindicatos de produtores rurais de diversas cidades do Sul de Minas estão insatisfeitos com a atuação do Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Vicente Bertone. Segundo representantes dos cafeicultores, o secretário estaria criando entraves para dificultar as negociações que interessam ao setor, e por isso estão solicitado sua saída do Mapa.


“Estamos indignados com a morosidade das decisões da esfera governamental na decisão das renegociações das dividas da cafeicultura, que de acordo com as preconizações da Carta de Varginha do Movimento S.O.S. Cafeicultura, deveriam ter sido aprovadas antes do inicio da safra”. Os sindicatos também mostram-se insatisfeitos com o reajuste do preço mínimo do café, por ter ficado abaixo do preço mínimo calculado pela Conab.


De acordo com Armando Matielli, engenheiro agrônomo, cafeicultor e diretor do Sindicato Rural dos Produtores de Guapé, não existe política pública para o café. “O secretário Bertone é o responsável pelo grupo de trabalho criado para discutir, entre outros pontos de nosso interesse, o preço mínimo, a dívida e os contratos de opções públicas. Mas ele não tem apresentado nenhuma estratégia, nenhum plano de mercado nem marketing para o café brasileiro”, afirmou.


“Durante as discussões do preço mínimo, esperávamos uma atitude mais incisiva, de defender o preço mínimo para o café, mas não foi isso que aconteceu. Eles aceitaram um preço inferior ao preço de custo. Os contratos de opções também estão equivocados. Deveriam ser imediatos, e não para novembro. Dessa forma, o governo favorece os exportadores e os diferentes elos do setor produtivo, menos o produtor”, desabafou.


“Estamos indignados e lamentamos profundamente a falta de consideração do governo de um modo geral, principalmente do Ministério da Agricultura, para com a cafeicultura. A nossa proposta é poder pagar as dívidas da cafeicultura em sacas de café, 5% ao ano durante 20 anos, com a saca no valor de R$ 320,00, que representa o real custo de produção no Sul de Minas, mas ainda não há nem um esboço de como as dívidas seriam negociadas, as discussões caminham em ritmo muito devagar”, afirmou.


“Se essa demora não for intencional, pelo menos parece que é. Estamos em época de colheita e as soluções demoram pra chegar, pois assim se favorece o mercado, que aproveita da situação do produtor”. Segundo o diretor do sindicato, não existe gestão pública de apoio ao cafeicultor. “O Brasil deixa de ganhar US$ 3 bilhões por ano por falta de gestão pública. Nossos principais concorrentes de arábica, a Colômbia e os países da América Central, vendem o mesmo café no dobro do preço. Hoje o diferencial de preço do café da Colômbia em relação ao brasileiro está entre R$ 200 e 250”.


Em resposta, Bertone afirmou que não é possível atender apenas as necessidades da agricultura. “É preciso ver o todo”, afirma. Ele reconhece que o custo de produção varia muito, dependendo do nível de tecnologia de cada produtor, e considera normal o surgimento de divergências. “Precisamos elaborar políticas que contemplem a todos. A crise que o setor vive, às vezes, leva a reivindicações exageradas”, declarou. Quanto ao pedido para sua saída do governo, Bertone disse que “grande parte dos cafeicultores enxergam as vitórias que foram conquistadas” durante sua atuação no Mapa.


O caso da Garcafé


Bertone, ex-presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), foi também presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Garça (Garcafé). Durante sua gestão frente à cooperativa, de acordo com o atual diretor, José Wilson Lopes, a cooperativa contraiu uma dívida praticamente impagável.


Em carta encaminhada ao Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, Lopes também protesta e questiona a permanência do secretário no cargo de servidor do MAPA. “Esta Cooperativa, que em outras épocas chegou a ser a segunda maior exportadora de café do Brasil, hoje possui uma dívida de R$ 80 milhões. Considerando que a grande maioria dos referidos cooperados de nossa região são pequenos proprietários rurais, para muitos, tal valor excederia ao valor de suas propriedades, de seus bens”, disse.


Segundo a carta, “da auditoria levada a efeito pelo INSS resultou na denuncia dos três diretores da referida cooperativa MANOEL VICENTE FERNANDES BERTONE, WALDIR MARQUES DA COSTA E ROBERTO NEUBERN MAFUD ao Ministério Público Federal por indícios de crimes contra a Ordem Tributária Nacional e por Apropriação Indébita de verbas previdenciárias, cujo processo tramita pela Vara Federal do Ministério Publico Federal na cidade de Marília/SP”.


Também se encontra em tramitação uma Ação Ordinária de Reparação de Danos Decorrentes de Responsabilidade de Dirigentes motivada pela administração na qual, durante 15 anos, teve como principal administrador o Sr. Manoel Vicente Fernandes Bertone. Segundo a carta, da referida auditoria, constatou-se prejuízos constantes; despesas de viagens desnecessárias; utilização de bens da cooperativa em campanha política; desrespeito às normas de contabilidade vigentes; favorecimentos; venda de café de cooperados sem a devida liquidação; desrespeito às normas estatutárias da cooperativa; concessão de créditos sem as devidas garantias e dilapidação do patrimônio da cooperativa.


Em defesa de Bertone


Conforme publicou o blog do café, cinco cooperativas do setor cafeeiro manifestaram total apoio à atuação do secretário de Produção e Agroenergia do Mapa, Manoel Bertone.


Em documento encaminhado, ontem, ao ministro Reinhold Stephanes, Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Franca), Coopinhal (Cooperativa de Cafeicultores da Região de Pinhal), Camda (Cooperativa Agrícola Mista de Adamantina) e Casul (Cooperativa Agrária dos Cafeicultores do Sul de São Paulo) destacaram os relevantes serviços prestados pelo secretário junto ao MAPA.


“Bertone conhece as necessidades do setor cafeeiro e tem trabalhado, no Governo Federal, pela valorização da cafeicultura, atividade que gera cerca de 10 milhões de empregos em nosso país. Merece, portanto, o nosso reconhecimento”, destacou o presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa. Além dele, assinam o documento os presidentes Maurício Miarelli (Cocapec), Osvaldo Matsuda (Camda), Abel Rebollo Garcia (Casul) e Alexandre Husemam da Silva (Coopinhal).


Com informações dos Sindicatos dos Produtores Rurais de Guapé, e da Cooperativa de Garça, Garcafé.

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