Preços salgados no café da manhã: custo sobe até 7,30% em 12 meses

Por: 12/06/2009 23:06:57 - O Globo Online

No Rio, aumento chega a 10%. Leite já acumula alta de 18,54% no período

Luciana Casemiro e Geralda Doca


RIO e BRASÍLIA. Tomar um café da manhã básico – com pão francês e um café com leite e açúcar para adoçar o início do dia – está custando 7,30% mais caro ao bolso do brasileiro, no acumulado dos últimos 12 meses, até em maio, pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV).


Se a refeição for incrementada com iogurte, suco de frutas, presunto, queijo minas, mortadela e margarina, o aumento, em 12 meses, fica em 6,32%. Em ambos os casos, a variação é maior do que a inflação apurada pelo IPC no período, de 5,55%.



E o maior culpado pelo preço salgado da primeira refeição do dia – como já apontava o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado quarta-feira – é o leite longa vida, que subiu, só em maio, 9,58%, a maior alta desde 2004, quando se iniciou a série.


Em 12 meses, o aumento é de 18,41%, também marca histórica para o mês.


O economista André Braz, da FGV, que realizou o levantamento a pedido do GLOBO, esclarece que, para calcular a variação acumulada da cesta de café da manhã, levou em consideração o peso dos produtos na cesta das famílias de baixa renda, para as quais a alimentação representa cerca de 40% do orçamento: – E é importante lembrar que o preço do leite, que registra a maior alta, é sazonal, por conta da entressafra, e ainda vai influenciar o valor dos laticínios, o que ainda não aconteceu por causa dos estoques.


No Rio, gasto com refeição chegou a R$ 86,24 em maio


Pela cesta de compras da cidade do Rio, feita pela Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio-RJ), começar o dia tomando um suco de laranja com açúcar, café com leite e um pãozinho com queijo prato, custou ao carioca, no mês de maio, R$ 96,24. Uma alta de 8,52% no ano, ante a um recuo apurado para alimentos, na mesma cesta, de 0,14%. Em 12 meses, a variação do custo do café da manhã é mais do que o dobro da cesta de alimentos: 10,12% e 4,54%, respectivamente.


Pela pesquisa da FecomércioRJ, o leite subiu ainda mais no Rio, 25% em 12 meses, fechados em maio.


– O açúcar também puxa os preços, com uma alta de quase 38% em um ano. O número é resultado da queda mundial na produção, parte dela desviada para fabricação de biocombustível, e de problemas climáticos que prejudicam a safra brasileira – explica Christian Travassos, economista da Fecomércio-RJ.


Aumento de importação segura preço de leite em pó


O consumidor pode se preparar para pagar ainda mais caro pelo leite nos supermercados.


A previsão de nova alta do leite UHT parte do pressuposto de que há uma relação direta entre o valor pago ao produtor e o cobrado pelas redes de atacado e varejo. E a remuneração dos produtores ainda não chegou ao R$ 0,74 pago pelo litro do produto em igual período de 2008.

No mês passado, a média nacional estava em R$ 0,66.


– A tendência é que o preço vai seguir aumentando. O valor pago ao produtor está abaixo do pago em 2008. Além disso, há um fator de pressão a mais, a seca no Sul do país, que reduziu a captação do produto em 7% na entressafra – disse João Salomão, coordenador-geral de Pecuária e Culturas Permanentes do Ministério da Agricultura.


Segundo Salomão, a situação só deverá se normalizar entre agosto e setembro, quando começa o período de safra. Já o produto em pó está caindo devido à elevação na importação desse tipo da Argentina e do Uruguai. Entre janeiro e maio, o Brasil importou 39,6 mil toneladas de leite em pó dos dois países, uma alta de 170% em relação a 2008, de acordo com a Agricultura. O volume levou o país a suspender a importação automática, diz Salomão.


Ele afirmou que o crescimento do volume importado levantou a suspeita do setor privado e de autoridades brasileiras de que a Argentina estivesse comprando o produto na Europa e desovando no Brasil a preços mais baixos, o que poderia trazer problemas para a concorrência. O que precisaria ser investigado.


O Ministério do Desenvolvimento negou que o país esteja segurando as licenças de importação do leite em pó de Argentina e Uruguai. Neste mês, diz, foram importados seis mil toneladas.


Pragmático, o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-RJ, lembra que todo preço que sobe uma hora desce e vice-versa. Por esse motivo, o preço do leite não o preocupa. Já o das commodities (milho, soja, trigo), diz, esses sim devem pressionar a inflação no segundo semestre: – Tudo o que sobe desce. O leite vai parar de subir. O grupo de alimentos, no entanto, já está crescendo no atacado e a tendência é uma alta ainda maior no segundo semestre, com a economia se recuperando e aumentando a demanda.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.