ARTIGO – “FARTURA” TOTAL NO CAMPO

14 de junho de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião

Engº José Eduardo Reis Leão Teixeira


Este título, ao contrário da interpretação literária, que significa abundância, se refere a um modo de falar caipira no sentido de manifestar a falta = “farta”, ou seja, ausência ou falta de alguma coisa. Portanto, estarei tratando da falta e não da abundância.

A agropecuária de forma geral, incluída nesta o nosso café, possui como luta constante e infindável as batalhas por legislações ou ações que provoquem sustentação aos produtores. Estas deveriam ser implantadas pelos governos, porém, propostas com eficiência pela produção.

A ausência de cenários consistentes, por total falta de políticas, bem como de proposições futuristas leva à anarquia absoluta, com insatisfações constantes dos produtores.
Neste caso, o que deveria ser um negócio passa a ser um jogo e desta forma os riscos extrapolam os limites do aceitável. Não bastassem os riscos climáticos, por se tratarem de atividades sem teto, ainda assim não possuem a cobertura governamental.

Deixo claro que não estou me referindo a cobertura por paternalismos estatais, pelo qual sou totalmente contrário, mas aos deveres do governo em proteção à sociedade e diretamente relacionada aos direitos da mesma.

Não apenas este atual governo, mas praticamente todos, sejam por motivos financeiros e econômicos ou outros, não fizeram o dever de casa.

Atualmente possuímos uma situação peculiar e até mesmo singular, retratado por um expressivo caixa financeiro nas reservas cambiais.

Chegamos ao desplante de emprestar bilhões de dólares ao FMI, para que o mesmo o repasse a países necessitando de recursos para ajudar seus povos, enquanto nossa sociedade é carente de todas as necessidades básicas e conjunturais.

Absterei de citar as inadmissíveis agressões que a classe política, com raras exceções, nos ataca e contrariamente à 3ª lei da física, em que toda ação possui uma reação igual e contrária, ficamos inertes como um mourão frouxo e apodrecido, parecendo sustentar algo e servindo apenas de enfeite para “boi ver”. Estamos todos frouxos, apesar de nossa natureza não ser esta.

Alguns setores da atividade agropecuária, como a cafeicultura, sofrem com mais intensidade os efeitos da “fartura = farta tudo”, e suas solicitações mesmo mal elaboradas, raramente contemplam a eficiência.

Entre a sociedade produtiva e o governo existe a sociedade civil, e justamente nesta se encontra o suporte necessário a movimentações mais dinâmicas no sentido de sensibilizações para atendimentos de reivindicações reais e necessárias junto aos governantes.

Percebam que esta sociedade desconhece os problemas agropecuários, mas conhece os impostos a que é obrigada a recolher. Esta sociedade, espoliada através de uma das maiores taxas de impostos do planeta não é atendida no básico, sem mencionar todo o restante.
A agropecuária, através das populações dos grandes centros, principalmente, é vista por uma imagem irreal, para não dizer surrealista, onde se tem por rótulo “fazendeiros ricos, chorões e eternos pedintes de recursos”. Sabemos não ser a realidade, com algumas exceções, mas a sociedade por desconhecimento pensa e a trata desta forma.

E, como fazer esta sociedade conhecer a verdade e trazê-la de encontro e apoio aos reais pleitos?

Possivelmente nesta resposta esteja a solução para os inúmeros problemas e dificuldades de toda a atividade produtiva, nos moldes da cultura de nossa população e governo, em geral Tupiniquins.

A entidade máxima de representação de toda a agropecuária está sediada na CNA (Confederação Nacional da Agricultura), tendo sob o efeito pirâmide do topo para baixo as Federações, Sindicatos, OCB, Associações de Produtores, entre outras sociedades.

Acredito que uma ação bem articulada pela CNA, com a finalidade de provocar resultados de apoio à sociedade poderia estar em estrategicamente mudar radicalmente esta imagem distorcida, e isto só se faz com ações.

Estas ações deveriam apresentar propostas claras e ostensivas em benefício da sociedade, em suas necessidades mais básicas.

Os produtores ao solicitarem recursos financeiros possuem em confronto o pensamento da sociedade, a qual os vê como aproveitadores; alimentado por discursos inflamados e descabidos de Ministro de Estado, entre outros, acanhando os governantes e colocando contra a parede os produtores.

Sendo assim, como sugestão, acredito ser eficiente e viável toda a agropecuária destinar através de todos os produtores os conceitos e princípios básicos de visão social e humanitária, estabelecendo e destinando o percentual ínfimo de 1% (um ponto percentual) de toda a produção anual e permanente, para assim comprovar a intenção de ação de longa duração, transformada em recursos financeiros e destinadas a ações sociais de forte impacto, sem nenhum gerenciamento ou interferência governamental e isenta de interesses politiqueiros.
Isto, contrariamente ao intento, poderia ser um prato feito para os abutres de plantão; sendo que nosso país está parecendo ser constituído apenas de abutres e carcaças, não existindo “Àguias”, o que deve ser mudado com urgência.

Tal proposição, segmentada pelas inúmeras atividades produtivas, e conduzida com respeito, ética e profissionalismo teria certamente efeitos surpreendentes, colocando a sociedade favorável aos produtores e forçando potencialmente o governo a posturas solucionadoras dos inúmeros pleitos.

Se realizada por etapas em unidades de pólos regionais e divulgada ostensivamente através da mídia provocaria resultados práticos e eficientes.

Seria o que as empresas de sucesso, com seus capazes executivos, inteligentemente aplicam no jogo do ganha-ganha, onde todos são beneficiados, ou se preferirem o velho ditado: “uma mão lava a outra e o sabão lava as duas”.

O impacto que este pequeno percentual, representado por um significante valor anual de R$7,3 bilhões, provocaria benefícios importantes à sociedade brasileira e ao ser patrocinado pela agropecuária acarretaria reflexos de mesma proporção e intensidade em reação favorável à mesma, angariando o respeito, simpatias e considerações, obtidas através de um valor ínfimo se considerado pela participação de cada produtor.

Muito se pode fazer e obter, desde que unidos e alinhados aos conceitos que determinam nossa verdadeira razão existencial.

Exercer atividades econômicas e obter sucesso sem aplicar a contrapartida social geralmente não gera resultados consistentes.

Acredito ser este o atalho mais preciso, eficiente e permanente, para se obter os resultados pretendidos.


Engº José Eduardo Reis Leão Teixeira
CEO- Estrada Consultoria

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