O “levante” dos pequenos na 16ª Agrishow

Por: Globo Rural

ESPECIAL
19/06/2009 
 
Sem a participação das grandes empresas, cai o faturamento do evento, que focou a agricultura familiar e concentrou vendas em tratores de menor porte e microtratores
 
Texto Sebastião Nascimento


O faturamento de R$ 870 milhões esperado pelos organizadores da 16ª Agrishow, feira de máquinas agrícolas realizada no mês passado, em Ribeirão Preto, SP, não foi alcançado. Os R$ 680 milhões em vendas ficaram 18% menores em relação às de 2008. Talvez os organizadores da feira tenham projetado uma expectativa otimista demais, já que os grandes fabricantes, entre eles John Deere, New Holland, Case e Agco, não participaram neste ano e divulgaram essa decisão com antecedência.


Mas tanto o volume de negócios como a presença de público estão distantes de ser desprezados. Pelo menos 120 mil pessoas marcaram presença em Ribeirão Preto, em comparação aos 134 mil na edição de 2008. É que, diante da negativa das empresas de maior porte, a atenção dos promotores do evento foi centrada na agricultura familiar. Nos últimos anos, esse setor notoriamente tem sido impulsionado por programas públicos como o Trator Solidário, do Paraná, o Pró-Trator, de São Paulo, e o Mais Alimento, do governo federal. E os pequenos, em sua grande maioria, adquirem máquinas de baixa potência.


As empresas comemoraram. A Tramontini esgotou seu estoque de microtratores, vendendo 20% a mais na comparação com 2008. Outra esperava comercializar 60 tratores, entre 20 e 75 cavalos; negociou 200. Essas duas já garantiram seu espaço para a Agrishow 2010.


“A Agrishow cumpriu seu papel. Ela é maior que os números”, disse Cesário Ramalho, seu presidente. Segundo o dirigente, diante do panorama de incertezas vivido pelo agronegócio na semana de duração do evento, as vendas podem ser consideradas expressivas. Já o representante de uma empresa afirmou em seu estande “que é o pequeno produtor quem põe a comida em nosso prato”.


O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, visitou a Agrishow. Ele lamentou a ausência das grandes empresas de colheitadeiras e tratores, observando que “o momento é difícil, mas elas deveriam ter mantido suas posições”.


Do total de visitantes, 2,5 mil vieram de outros países, e 725 expositores preencheram o espaço de 240 mil metros quadrados da Agrishow. A Sociedade Rural Brasileira, uma das organizadoras junto com a Abag – Associação Brasileira de Agribusiness, a Abimaq – Associação Brasileira da Indústrias de Máquinas e a Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos, informa que foi “assinado um protocolo de intenções de cessão da área da Secretaria de Agricultura paulista para a realização da Agrishow em Ribeirão Preto até dezembro de 2014”. Ia se o poder de degradação ambiental. Os oleiros experientes sabem que as argilas mais puras geralmente encontram-se em áreas de nascentes e matas ciliares, locais frágeis e protegidos por lei.


Apesar de livrar parte do trabalho pesado, a máquina não implica melhoria das condições de vida dos trabalhadores, muitos deles mulheres e idosos que, se não batem mais o barro nas formas, chegam a passar dez horas por dia carregando carrinhos cheios de tijolos debaixo de sol.


O modo de produção familiar permanece como antigamente. Muitas famílias trabalham e vivem nas olarias, o que acaba facilitando que jovens entrem cedo na atividade. Nota-se claramente que a compleição física típica dos oleiros é de homens baixos e fortes.


Hoje, o poder público, aos trancos e barrancos, procura impor algumas regras. O trabalho infantil, que já foi muito comum, atualmente é raro. Quanto à extração de argila, passou-se a exigir licenças ambientais, contrapartidas pelos danos ao ambiente e taxas pela extração da terra. Mas praticamente nenhuma olaria da região bragantina se adequou às regras. Os oleiros alegam que é inviável. Sempre que algum promotor ameaça fechar olarias, acaba vencido pelo argumento do impacto social que causaria a medida.


Este ensaio foi realizado como tentativa de extrair algo humano de uma atividade de forma geral muito mal vista, e de enxergar o ponto de transição entre a zona rural e a cidade em uma região de crescimento rápido e desorganizado. A olaria, numa certa maneira, representa essa passagem. E os oleiros, essa gente do barro, mal deixam de ser da roça e já são obrigados a perder a inocência solidária do campo, plantando eles mesmos uma urbanidade nem sempre desejável. 0
 

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