Liderança agrícola deve aumentar influência internacional do Brasil

Brasil tem condições favoráveis para a expansão da produção agrícola



Alessandra Corrêa


Da BBC Brasil em São Paulo


 


Brasil tem condições favoráveis para a expansão da produção agrícola
O Brasil deverá aproveitar a posição de liderança na agricultura para aumentar sua influência internacional nos próximos anos, afirmam analistas.


De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 2050 o mundo deverá dobrar a produção para alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas.


Com disponibilidade de terras agricultáveis, água em abundância, condições de clima favoráveis, domínio da tecnologia de agricultura tropical e uma agroindústria avançada, o Brasil poderá chegar a 2020 como a principal potência agrícola do mundial.


O avanço nessa área acontece em um momento crucial. Desde o ano passado, o tema da segurança alimentar voltou à agenda internacional, com a crise provocada pela alta dos alimentos.


“Depois de os preços virem caindo desde os anos 70, a partir de 2005 subiram rapidamente. De todos os países do mundo, o Brasil foi o que mais ocupou o espaço aberto por esse aumento de preços e pela possibilidade de aumentar suas exportações”, disse à BBC Brasil o representante regional da FAO, José Graziano.


O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem usado politicamente o potencial agrícola brasileiro em suas participações em fóruns internacionais.


Lula já disse mais de uma vez, durante viagens internacionais, que a crise era “uma grande oportunidade para voltarmos a produzir muito mais alimentos”.


Nesta safra, o Brasil deverá colher mais de 135 milhões de toneladas de grãos, o que representa cerca de 6% da produção mundial, estimada em 2,2 bilhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).


O país já figura entre os líderes em algumas das principais culturas. É o segundo maior produtor de soja (atrás dos Estados Unidos) e o terceiro de milho (depois de Estados Unidos e China). É destaque ainda em uma gama de produtos, de café e carnes a frutas e etanol.


No entanto, diferentemente de outros líderes nesse setor, que já chegaram a seu limite de área e produtividade, o Brasil ainda tem muito a avançar, segundo analistas.


“O Brasil está perfeitamente habilitado a, nos próximos 10 anos, chegar a 300 milhões de toneladas”, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.


“A demanda por produtos agrícolas vai crescer bastante nos próximos anos”, diz Rodrigues. “E poucos países têm condições de atender a essa demanda como o Brasil.”


Terra


Os cálculos dos analistas sobre o volume de terras agricultáveis disponíveis no Brasil variam de 60 milhões a 200 milhões de hectares.


“O Brasil tem terras disponíveis em uma escala que nenhum outro país tem hoje”, diz o representante regional da FAO, José Graziano, que já foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo de Lula.


Segundo o governo e diversos especialistas, as terras inseridas nessas estimativas não incluem regiões de florestas ou de reservas, e são formadas principalmente por pastagens degradadas, que podem ser reaproveitadas para agricultura, e áreas nativas a ser abertas.


“O Brasil tem 176 milhões de hectares de pastagens plantadas e outro tanto de pastagens naturais, que é difícil medir. Somando dá alguma coisa em torno de 200 milhões de hectares”, diz Rodrigues.


Ambientalistas contestam a afirmação de que as terras agricultáveis não incluem florestas ou reservas e alertam para os impactos que a expansão da agricultura tem sobre o meio ambiente, como degradar rios e colocar espécies animais em risco.


Mas apesar das divergências, o fato é que esse potencial de terras ainda inexploradas coloca o Brasil em uma posição de destaque em relação aos outros grandes emergentes do grupo BRIC.


Outro ponto a favor do Brasil é a tecnologia para agricultura tropical, considerada por especialistas a mais avançada do mundo.


Nas últimas décadas, pesquisadores brasileiros conseguiram, entre outras conquistas, adaptar variedades antes produtivas somente em regiões temperadas às condições de solo e clima do cerrado, o que fez o Brasil despontar como grande produtor agropecuário.



O domínio dessa tecnologia e o melhoramento de sementes ampliaram as fronteiras agrícolas do Brasil e transformaram regiões antes consideradas improdutivas, como o sul do Maranhão, em importantes pólos de produção.


Além disso, a tecnologia também permitiu aumentar o rendimento por hectare. Com isso, a produção brasileira deu um salto sem tanta necessidade de expansão de área.


Em 1981, segundo dados do IBGE, o Brasil plantou 37,4 milhões de hectares e colheu 51,1 milhões de toneladas de grãos. Na safra 2008/2009, a área foi de 47,4 milhões de hectares.


“Nos últimos 15 anos, a área plantada com grãos no país cresceu 27%, e a produção aumentou 142%”, afirma Roberto Rodrigues. “Pura tecnologia.”


Dificuldades


Apesar de todas essas vantagens, porém, o setor agropecuário brasileiro ainda enfrenta dificuldades.


O alto rendimento obtido em grandes propriedades que usam tecnologia de ponta nem sempre é registrado entre os pequenos agricultores.


“Temos uma agricultura muito heterogênea”, diz Rodrigues. “Há produtores brasileiros comparados aos melhores do mundo, como americanos e australianos. Mas também há outros comparados a agricultores africanos.”


Essa disparidade faz com que, apesar da alta produtividade em algumas regiões, o rendimento médio das lavouras brasileiras ainda seja considerado baixo em comparação ao de outros grandes produtores agrícolas.


“No milho, por exemplo, a oscilação é de 3 mil a 14 mil quilos por hectare, dependendo do produtor”, diz o analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado.


Um dos principais gargalos apontados por analistas, porém, se refere a infra-estrutura e logística.


“As dimensões do Brasil são grandes, e dependemos de uma malha de transportes concentrada em rodovias”, diz Molinari.


A distância de portos e de grandes centros consumidores e a falta de uma malha ferroviária dificulta o escoamento e reduz a competitividade de muitos produtores.


Há ainda deficiência de estrutura em portos e falta de armazéns, além do desafio de combater o protecionismo no mercado internacional.


No entanto, os especialistas afirmam que o Brasil tem condições de superar esses entraves e não duvidam da capacidade do país de assumir seu papel de liderança no agronegócio mundial.


“O Brasil é peça essencial para vencer a fome”, diz o diretor técnico da consultoria Agra FNP, José Vicente Ferraz.


 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Liderança agrícola deve aumentar influência internacional do Brasil

Com condições favoráveis, país deve chegar a 2020 como a principal potência agrícola mundial.

Por: BBC Brasil

Da BBC Brasil em São Paulo – O Brasil deverá aproveitar a posição de liderança na agricultura para aumentar sua influência internacional nos próximos anos, afirmam analistas.


De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 2050 o mundo deverá dobrar a produção para alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas.


Com disponibilidade de terras agricultáveis, água em abundância, condições de clima favoráveis, domínio da tecnologia de agricultura tropical e uma agroindústria avançada, o Brasil poderá chegar a 2020 como a principal potência agrícola do mundial.


O avanço nessa área acontece em um momento crucial. Desde o ano passado, o tema da segurança alimentar voltou à agenda internacional, com a crise provocada pela alta dos alimentos.


“Depois de os preços virem caindo desde os anos 70, a partir de 2005 subiram rapidamente. De todos os países do mundo, o Brasil foi o que mais ocupou o espaço aberto por esse aumento de preços e pela possibilidade de aumentar suas exportações”, disse à BBC Brasil o representante regional da FAO, José Graziano.


O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem usado politicamente o potencial agrícola brasileiro em suas participações em fóruns internacionais.


Lula já disse mais de uma vez, durante viagens internacionais, que a crise era “uma grande oportunidade para voltarmos a produzir muito mais alimentos”.


Nesta safra, o Brasil deverá colher mais de 135 milhões de toneladas de grãos, o que representa cerca de 6% da produção mundial, estimada em 2,2 bilhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).


O país já figura entre os líderes em algumas das principais culturas. É o segundo maior produtor de soja (atrás dos Estados Unidos) e o terceiro de milho (depois de Estados Unidos e China). É destaque ainda em uma gama de produtos, de café e carnes a frutas e etanol.No entanto, diferentemente de outros líderes nesse setor, que já chegaram a seu limite de área e produtividade, o Brasil ainda tem muito a avançar, segundo analistas.”O Brasil está perfeitamente habilitado a, nos próximos 10 anos, chegar a 300 milhões de toneladas”, diz o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.”A demanda por produtos agrícolas vai crescer bastante nos próximos anos”, diz Rodrigues. “E poucos países têm condições de atender a essa demanda como o Brasil.”


TerraOs cálculos dos analistas sobre o volume de terras agricultáveis disponíveis no Brasil variam de 60 milhões a 200 milhões de hectares.”O Brasil tem terras disponíveis em uma escala que nenhum outro país tem hoje”, diz o representante regional da FAO, José Graziano, que já foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo de Lula. Segundo o governo e diversos especialistas, as terras inseridas nessas estimativas não incluem regiões de florestas ou de reservas, e são formadas principalmente por pastagens degradadas, que podem ser reaproveitadas para agricultura, e áreas nativas a ser abertas.


“O Brasil tem 176 milhões de hectares de pastagens plantadas e outro tanto de pastagens naturais, que é difícil medir. Somando dá alguma coisa em torno de 200 milhões de hectares”, diz Rodrigues.


Ambientalistas contestam a afirmação de que as terras agricultáveis não incluem florestas ou reservas e alertam para os impactos que a expansão da agricultura tem sobre o meio ambiente, como degradar rios e colocar espécies animais em risco.


Mas apesar das divergências, o fato é que esse potencial de terras ainda inexploradas coloca o Brasil em uma posição de destaque em relação aos outros grandes emergentes do grupo BRIC.Outro ponto a favor do Brasil é a tecnologia para agricultura tropical, considerada por especialistas a mais avançada do mundo.Nas últimas décadas, pesquisadores brasileiros conseguiram, entre outras conquistas, adaptar variedades antes produtivas somente em regiões temperadas às condições de solo e clima do cerrado, o que fez o Brasil despontar como grande produtor agropecuário.


O domínio dessa tecnologia e o melhoramento de sementes ampliaram as fronteiras agrícolas do Brasil e transformaram regiões antes consideradas improdutivas, como o sul do Maranhão, em importantes pólos de produção.Além disso, a tecnologia também permitiu aumentar o rendimento por hectare. Com isso, a produção brasileira deu um salto sem tanta necessidade de expansão de área.


Em 1981, segundo dados do IBGE, o Brasil plantou 37,4 milhões de hectares e colheu 51,1 milhões de toneladas de grãos. Na safra 2008/2009, a área foi de 47,4 milhões de hectares.”Nos últimos 15 anos, a área plantada com grãos no país cresceu 27%, e a produção aumentou 142%”, afirma Roberto Rodrigues. “Pura tecnologia.”DificuldadesApesar de todas essas vantagens, porém, o setor agropecuário brasileiro ainda enfrenta dificuldades.O alto rendimento obtido em grandes propriedades que usam tecnologia de ponta nem sempre é registrado entre os pequenos agricultores.


“Temos uma agricultura muito heterogênea”, diz Rodrigues. “Há produtores brasileiros comparados aos melhores do mundo, como americanos e australianos. Mas também há outros comparados a agricultores africanos.”


Essa disparidade faz com que, apesar da alta produtividade em algumas regiões, o rendimento médio das lavouras brasileiras ainda seja considerado baixo em comparação ao de outros grandes produtores agrícolas.


“No milho, por exemplo, a oscilação é de 3 mil a 14 mil quilos por hectare, dependendo do produtor”, diz o analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado.


Um dos principais gargalos apontados por analistas, porém, se refere a infra-estrutura e logística.”As dimensões do Brasil são grandes, e dependemos de uma malha de transportes concentrada em rodovias”, diz Molinari. A distância de portos e de grandes centros consumidores e a falta de uma malha ferroviária dificulta o escoamento e reduz a competitividade de muitos produtores.


Há ainda deficiência de estrutura em portos e falta de armazéns, além do desafio de combater o protecionismo no mercado internacional.No entanto, os especialistas afirmam que o Brasil tem condições de superar esses entraves e não duvidam da capacidade do país de assumir seu papel de liderança no agronegócio mundial.”O Brasil é peça essencial para vencer a fome”, diz o diretor técnico da consultoria Agra FNP, José Vicente Ferraz.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.