HISTÓRIA DO CAFÉ – Para entender o que foi a chamada Revolução de 1932

Por: 11/07/2009 23:07:05 - Jornal Entrelinhas

A História é algo que pode ser facilmente manipulada se analisada de forma leviana. No caso da História do Brasil, os fatos devem ser estudados com muita calma e a maioria dos episódios que ocorreram no país estão carentes de uma revisão ampla, competente e isenta de idealizações marcadas por atos de heroísmos individuais ou de grupos elitistas. Vários episódios da História do Brasil foram indiscriminadamente manipulados pelos ideólogos das elites.


Fatos foram distorcidos ou relatados de forma unilateral. Um desses episódios foi a chamada Revolução Constitucionalista de 1932. Para entende-la, é necessário nos reportarmos para os episódios anteriores a ela. Neste caso, é preciso entender as primeiras décadas que precede a imposição do novo regime político que foi imposto para o Brasil, o regime republicano. Quem foram os atores que controlavam a política brasileira durante a República Velha – 1894 – 1930 ? Que episódio quebrou com o domínio das oligarquias que estavam no poder ? Qual era a real intenção do movimento de 1932 aqui em São Paulo?


Creio que é preciso ser respondidas estas perguntas para se ter um mínimo de entendimento sobre este episódio. Para tanto e de forma breve vamos a elas.


Em primeiro lugar, durante a segunda metade do século XIX em diante, o Brasil teve sua economia baseada na produção cafeeira. O café se espalhou pelo território paulista, formando uma nova elite, a Elite Cafeeira que a partir deste período começou a expandir seu poder político como expandiam seus cafezais. Nos últimos anos do da década de 1880, esta elite já estava vigorosa o suficiente para, junto com o Exército, executar o golpe que culminou com a instalação do regime republicano no Brasil. Após o novo regime se consolidar, a elite paulista e seus colaboradores monopolizara o poder político no Brasil por um período de 36 anos. Impondo suas vontades e ditando o rítmo da vida brasileira, baseado num conservadorismo mórbido.


Durante a Primeira Guerra Mundial – 1914 –1918, o Brasil sentiu alguns ventos de mudanças. Por necessidade, ocorreram a fundação de diversas indústrias, criadas para abastecer o carente mercado interno, que antes era suprido por importações. Estas indústrias foram criadas em São Paulo, onde parte do capital necessário para sua implantação veio da cafeicultura. A industrialização foi responsável pela formação de novas classes sociais alem de criar uma nova mentalidade política.


Por outro lado, a partir da segunda metade da década de 1920, o mundo capitalista começou a ser chacoalhado pela eminência de uma grande crise econômica. A crise veio com o famoso episódio que ocorreu em Nova York, o “crack” da Bolsa de Valores em 1929. Este fato atingiu em cheio a economia brasileira baseado na produção cafeeira. É agora que as coisas começam a ficar mais claras para se entender os fatos que sucederam até atingir o Movimento de 1932.


A crise econômica ocorreu justamente em ano de eleição presidencial no Brasil. Na época o Presidente era o paulista e cafeicultor Washington Luís, representante do Partido Republicano Paulista. Na época vigorava a famigerada “Política do “café-com-Leite”, onde havia um acordo firmado entre dois grupos políticos compostos pelo Partido Republicano Paulista – PRP, e o Partido Republicano Mineiro – PRM. Este acordo estabelecia um rodízio de domínio de poder entre eles, porém, quem mais usufruiu deste acordo foram os paulista.


Em meados de 1929, durante o início das campanhas presidenciais, a direção do PRP, com medo que os mineiros não tivessem o cuidado necessário para tratar da questão da crise do café, quebrou o acordo estabelecido. Como estabelecia o acordo, o próximo presidente do Brasil teria que ser um mineiro, e estava na fila, o então Presidente de Minas Gerais Antônio Carlos de Andrada. Mas o PRP indicou como candidato oficial para presidência o cafeicultor, paulista e então Presidente de São Paulo, Júlio Prestes. Este episódio desencadeou o rompimento da Política do “café-com-Leite”.


A partir desse momento, o clima político no Brasil ficou muito tenso. O PRM uniu-se com as Oligarquias Dissidentes e formaram a Aliança Liberal, com candidatos próprios para disputar a eleição. Neste caso os candidatos eram, Getúlio Vagas e João Pessoa.


A eleição ocorreu e foram, como todas as outras eleições que ocorreram no Brasil, fraudadas. O PRP que contava com a força da máquina do Estado em suas mãos, ganhou a eleição e Júlio Prestes foi eleito. Mas não chegou a assumir o cargo. Antes de ocorrer a transferencia do poder, Washington Luís foi deposto pelo movimento denominado “Revolução de 1930”. Junto com Washington Luís caiu também a arcaica oligarquia paulista do poder. Uma nova elite se colocou como dirigente do Brasil.


Esta nova elite foi encabeçada por Getúlio Vargas e pela chamada oligarquia dissidente. Neste novo empreendimento de Estado, os paulistas ficaram de fora.


Vargas e sua equipe nomearam interventores para governar os estados brasileiros. Para São Paulo, foi designado um interventor não paulista, o que enfureceu a elite derrotada pelo movimento de 1930.


Após dois anos de governo Vargas, a economia brasileira estava se recuperando do choque causado na economia pela crise de 1929. A Elite paulista deposta em 1930, sentindo-se reabilitada, começou a fazer uma série de exigências encaminhadas para o Governo, onde, pediam a nomeação de um interventor paulista, além de mostrar a necessidade de elaborar uma nova Constituição para o Brasil. O movimento de 1932 ocorrido em São Paulo, em primeira instancia, foi uma tentativa da velha oligarquia reaver o poder perdido. Este empreendimento levou centenas de pessoas de boa índole a acreditar nas força das propagandas de cunho civilistas, carregadas de ideologias nacionalistas.


O Rádio, os Jornais Escritos e diversos outros meios de comunicações foram utilizados pelos ideólogos e propagandistas desse movimento para seduzir e induzir o povo a abraçar uma causa que visava reconduzir ao plano do poder a antiga elite derrotada pelo movimento de 1930. Nestes anos ainda haviam paixões e envolvimentos populares nos setores políticos. Lembrar que durante esses anos os conflitos políticos eram intensos. O mundo estava se preparando para se envolver num dos seus últimos grandes conflitos, a Segunda Guerra Mundial. A força dos movimentos de massa estava no ar. Neste período o povo levado pelas paixões se envolveram nas mais diversas aventuras políticas levado por bandos de alucinados, vingativos e gangues más intencionadas. Como esquecer da Itália de Mussolini, a Alemanha dos Nazistas e até o Brasil de Getúlio Vargas.


O Movimento de 1932 lutava pelos direitos ou por vontades populares? Duvido. O Povo Brasileiro nunca passou de uma simples ficção ou apenas coadjuvante e sustentador das vontades do Estado. Tristes tempos aqueles onde centenas de pessoas deram suas vidas levadas por intenções particulares de grupos sedentos de poder. Hoje nós temos a obrigação de aprender com os erros do passados e não deixarmos sermos seduzidos por falsos discurso e propagandas de grupos e pessoas mefistotélicas.


Paulo Pizzigatti Diniz de Almeida
Historiador e Professor.
 
 

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