Biodiversidade do Brasil é mal explorada

Por: 12/07/2009 07:07:54 - Gazeta do Povo

País ainda não sabe como transformar o potencial dos biomas brasileiros em prosperidade econômica e desenvolvimento


São Paulo – O Brasil se orgulha de ter a maior biodiversidade do planeta. Somadas as riquezas biológicas da Amazônia, cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e caatinga, o país abriga mais espécies de plantas, animais, fungos e bactérias do que qualquer outro. Ótimo. Mas e daí? Para que serve essa biodiversidade? Quanto dessa riqueza biológica está sendo convertida em riqueza econômica e desenvolvimento para o país – além de render belas fotografias?


“Muito pouco” até agora, segundo especialistas consultados pela reportagem às vésperas da 61ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que começa neste domingo à noite, em Manaus (AM). As estatísticas mostram que o tão alardeado e cobiçado potencial econômico da biodiversidade brasileira ainda está longe de ser capitalizado a contento.


O estado que serve de anfitrião para o evento ilustra bem isso: com um território gigantesco e 98% de sua cobertura vegetal original preservada, o Amazonas tem mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados de floresta tropical intacta, habitada por uma riqueza incalculável de espécies. Mas qual é a importância dessa biodiversidade na economia do Estado?


“Não tenho um número exato para te passar, mas é próximo de zero”, diz o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Odenildo Sena. O estado com a maior área de floresta tropical do mundo sobrevive da produção de motocicletas e aparelhos eletrônicos na Zona Franca de Manaus.


A importância da biodiversidade na pauta de exportações brasileira também é pequena e fragmentada. Muitos dos principais produtos do agronegócio não têm raízes na biodiversidade nacional. Soja, café, cana-de-açúcar, laranja, gado zebuíno – todas espécies exóticas, trazidas de outros continentes e adaptadas pelo esforço de cientistas e produtores rurais.


Entre os produtos “nativos” do Brasil, o que mais pesa na balança comercial é a madeira, com um efeito colateral gravíssimo, que é a destruição da floresta. Quebrar esse paradigma – encontrar maneiras de transformar riqueza biológica em riqueza econômica sem acabar com a biodiversidade no processo – é um dos maiores desafios da ciência na Amazônia. “Não queremos manter um santuário ecológico; temos 25 milhões de pessoas na região que precisam sobreviver”, argumenta Sena. “Precisamos tirar proveito dessa biodiversidade e, para isso, precisamos pesquisá-la, gerar conhecimento sobre ela”, afirma.


Potencial ignorado


O primeiro desafio é simplesmente saber o que existe na floresta. Mais de 50 mil espécies de plantas e animais já foram catalogadas na Amazônia brasileira, mas os próprios cientistas estimam que isso representa, no máximo, 10% da biodiversidade real do bioma. Sem contar os micro-organismos, de grande interesse para a indústria de biotecnologia, cuja variabilidade está na casa dos milhões.


Além de investir na descoberta de novos produtos – que podem ser desde uma molécula até uma fibra, uma essência, uma bactéria, um peixe ou uma árvore inteira –, é preciso focar esforços nas espécies já conhecidas, diz o pesquisador Alfredo Homma, economista da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém. “Há muitos produtos com potencial econômico na Amazônia que não recebem a devida atenção”, diz ele. “Biodiversidade não é só madeira, não é só a cura do câncer. Também é borracha, açaí, castanha, palmito, cacau”, esclarece.


Os mercados da Amazônia estão abarrotados de produtos oriundos da natureza – frutas, fibras, óleos, ervas, peixes e uma infinidade de sabores e odores típicos da cultura regional. Mas são poucos os que atingem escala industrial. Na falta de tecnologia e de cadeias produtivas bem estruturadas, a região tem dificuldade para ir além do fornecimento de matéria-prima.


“Não é catando castanha e cortando seringa no meio do mato que vamos resolver o problema. Isso só funciona enquanto o mercado é pequeno. Precisamos de escala”, completa Homma, que será um dos 300 palestrantes da reunião da SBPC.

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