Ricardo Gonçalves Strenger
O programa do dia 07/08/2009 sobre café da Rede Globo foi muito bom e elucidativo.
Mas, a orientação ao consumidor falhou do ponto de vista da saúde, no momento em que o técnico de degustação de café, disse que para se fazer um bom café usa-se um blend de café Conillon com café Arábica.
Tomo a liberdade de complementar a orientação do programa.Temos que explicar que existem no mundo duas espécies de café: a espécie Arábica e a espécie Canephora, sendo este último o Robusta e o Conillon. Os cafés Robusta/Conillon são produzidos a baixo custo por serem árvores rústicas e pouco exigentes, sendo produzidos em determinados tipos de clima e solo, não aptos ao cultivo da espécie Arábica. Estes não possuem aroma, sabor ou paladar, sendo ainda adstringente, contendo altos índices de cafeína e servindo apenas para a mistura de cafés,alem de técnicas para tornar este café mais neutro. O café Arábica é uma espécie muito exigente em clima e solo, com altíssimo custo de produção, possuindo este sim sabor, paladar e aroma acentuados.
São dois cafés totalmente diferentes, até mesmo no número de cromossomas.
Não podemos admitir a banalização da mistura de café Conillon ao café Arábica, sem qualquer explicação aos consumidores da qualidade dos dois cafés, principalmente no importante aspecto referente à saúde. O café Conillon tem de duas a tres vezes mais cafeína que o café Arábica, portanto, temos de ter cuidado com as orientações de saúde.
Quando tivermos algum problema de saúde e necessitarmos consultar um médico, como disse o Dr. Darcy Lima, pergunto: como este médico poderá fornecer alguma orientação ao paciente se ele não sabe a quantidade de cafeína contida no blend, devido a não identificação das porcentagens de café contidas na embalagem?
Atenção consumidores, temos que exigir a rotulação do café. Atenção produtores de café Arábica, seu produto está sendo adicionado com outro produto que só serve como adição; é a mesma coisa que ao recebermos mais pessoas do que o esperado para comer bolinho de bacalhau e não tivermos mais bacalhau, simplesmente adicionamos mais batata, para fazermos mais bolinho de bacalhau.
Se o tal blend se tornou uma realidade, nada contra. Apenas precisamos rotular o café e identificar ao consumidor as porcentagens dos dois cafés, que temos nas embalagens de café.
No Estado do Paraná já há uma lei que obriga as indústrias a identificar as porcentagens dos cafés Arábicas e Conillon nos rótulos das embalagens.
A lei foi contestada pela indústria, mas já foi julgada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Estamos em fase de regulamentação.
Queremos lembrar ainda, que o melhor café do mundo é aquele que você gosta.
O que não podemos mais é praticar, em rede nacional, estas heresias contra o nosso suado cafézinho.
Ricardo Gonçalves Strenger
Presidente da APAC- Associação Paranaense de Cafeicultores
Londrina, 07 de agosto de 2009
ricardostrenger@yahoo.com.br