OPINIÃO – O cafezinho, o pão e a razão por Ricardo Strenger

Os cafés Robusta/Conillon são um fenômeno, começaram a se expandir na década de 90 e hoje ocupam posição de destaque mundial no consumo de café, chegando até mais de 50% de adição nos blends de café.

A introdução do café no Brasil tem uma história de 282 anos, por estranho que pareça, o único café consumido no mundo, até pouco tempo, era o café Arábica. Os cafés Robusta/Conilon,eram algo que o mercado mais exigente não aceitava. O paladar é inerente ao ser humano,é atávico, mas tem que haver parâmetros comparativos. Hoje, foi apagado da memória do consumidor o paladar daquele tradicional cafezinho, perdemos o parâmetro comparativo devido a adição exagerada de Robusta/Conillon. O café Arábica,está virando aromatizante de Robusta.

O mundo comercial evoluiu e houve a necessidade de se produzir mais por menos, para gerar mais lucros.

Após a guerra do Vietnã, vários países do primeiro mundo, se sentiram na necessidade histórica de ajudá-lo. Foi incentivado o plantio de café Robusta, que só produz em determinadas condições de solo e clima.

Conceituado cientista especializado em café Conillon disse: ”O Conillon pode ser utilizado no blend,sem afetar as qualidades organolépticas da bebida do café Arábica e sem ser percebido pelo consumidor”. Ora, estranho, se é preciso não afetar as qualidades organolépticas do Arábica, para que então , usar o tal café Conilon? O preço, naturalmente.

Disse ainda o ilustre cientista: “O Robusta ou o Conillon de boa qualidade, devem ter bebida neutra. O que quer dizer isso? Não é que eles não tenham uma bebida característica, mas sim que, numa participação em um blend com Arábica, não interfira nas características organolépticas do café Arábica”, e ainda : “ A questão, é que se trata de um café mais encorpado e com teores de cafeína mais intensos. Mas, usado na mistura e em proporções convenientes, não há qualquer prejuízo para a qualidade da bebida ou para a saúde”.

 É certo que estas palavras foram ditas numa entrevista realizada há alguns anos, sendo assim, espero que as qualidades do café Conillon tenham sido alteradas desde então, o que muito me satisfaria pois assim , não alteraríamos o tradicional cafezinho.

Na mesma entrevista, foi instado a dizer qual seria o efeito benéfico do Conillon sobre um blend com café Arábica? Respondeu: “ Pode ter um efeito benéfico,  desde que seja de boa qualidade. No corpo da bebida, por exemplo, ou em blends com cafés despolpados, ele proporciona a espuma requerida. No caso da industria brasileira, o beneficio principal é o preço”.

Continuamos dando o devido valor aos cafés Robusta /Conillon, mas temos que ficar atentos aos aspectos de saúde, devido ao “intenso” nível de cafeína, o que tem que ser alertado ao consumidor, especialmente, aos que sofrem de problemas cardíacos. A realidade é que não pretendemos que todo o café do mundo seja 100% Arábica, pois há gosto para tudo. Qualidade realmente é algo subjetivo e cada um fica com que melhor lhe aprouver. O fato é que precisamos identificar os dois cafés nas embalagens, para assim como os defensores dos cafés Robusta /Conillon evidenciarem suas qualidades, nós produtores de café Arábica, assim também necessitamos fazê-lo.

No meu estado, o Paraná, o IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), está realizando pesquisas para introduzir o café Conillon, às quais, não me oponho, até acho ótimo, Cada um é livre para fazer e plantar o que quiser. Ótimo também será que façam café 100% Conillon e assim, teremos mais parâmetros e instrumentos de marketing para ressaltar as qualidades de cada café. Portanto, não temam, não queremos destruir nada, só queremos o nosso tradicional espaço na história mundial do café.

Mais uma vez  gostaria de lembrar Sêneca:” A razão quer decidir o que é justo,a cólera quer que se ache justo o que ela já decidiu”. Vamos ficar com a razão, pois pelo menos o pão não esta faltando e não estamos brigando. Estaremos unidos.


Londrina, 16 de agosto de2009


 



Ricardo Gonçalves Strenger
ricardostrenger@yahoo.com.br

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