Friburgo tem importância reconhecida

Por: 21/08/2009 07:08:09 - Correio Popular

 
Maria Teresa Costa
DA AGÊNCIA ANHANGÜERA
teresa@rac.com.br


O Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) reconheceu ontem que o bairro Friburgo, implantado por alemães em 1879, é parte importante da história de Campinas e tombou como patrimônio histórico a escola, o prédio da Igreja Luterana e o Cemitério dos Alemães. Para os moradores do bairro, o tombamento é importante pelo reconhecimento da história, mas não irá salvá-los da desapropriação para a ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos. Os proprietários terão de vender suas terras para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), incluindo igreja, escola e cemitério.


“Pedimos o tombamento na tentativa de evitar a desapropriação, mas não adiantou. Nada mais justo que preservar os bens de uma comunidade que está neste local desde 1879”, afirmou o tesoureiro da Sociedade Escolar de Friburgo, Gerson Schafer. Segundo ele, a Infraero informou que a comunidade poderá continuar utilizando a escola, a igreja e o cemitério, se comprometendo até a fazer a autorização por escrito. “Se não tiver pessoas morando no bairro, há risco de depredações e invasões e nós ainda acabaremos tendo que contratar vigia”, afirmou.


O tombamento, disse a historiadora da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), Daisy Ribeiro, está dentro da área de desapropriação, mas nenhuma construção de Viracopos será feita naquele espaço. É uma região dentro da chamada curva de ruído, local com restrições de ocupação. “Antes da decisão, consultamos as áreas de planejamento e o (Departamento) Jurídico para termos certeza de que a desapropriação não comprometeria aquelas edificações”, disse a historiadora.


O bairro teve 30 mil metros quadrados incluídos no decreto de utilidade pública visando à desapropriação para a ampliação de Viracopos. Formado por chácaras e sítios, os proprietários utilizam o espaço como casa de campo para finais de semana. Apenas 25 famílias vivem em Friburgo e os descendentes mais idosos, vários dispersos pela região, ainda mantêm apego às tradições como, por exemplo, o uso do dialeto platt deustsch, praticamente extinto na Alemanha.


Em 2005, teve início um projeto para a introdução de Friburgo no roteiro turístico de Campinas, com qualificação e quantificação da oferta turística da colônia alemã. Uma das partes mais importantes do projeto está pronta: a recuperação da memória, das imagens e documentos do bairro feita pelo Centro de Memória da Unicamp. Outra, de planejamento turístico para o bairro, foi feita pelos alunos do curso de metodologia de planejamento da Faculdade de Turismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Mas quando foi divulgada a notícia de que Friburgo estava dentro do decreto de utilidade pública de Viracopos, houve um esmorecimento no ânimo da comunidade e o projeto parou.


Cinco famílias pertencem à primeira leva de imigrantes


Pesquisa coordenada pela professora Olga Simson, do Centro de Memória da Unicamp, mostrou que pelo menos cinco das famílias de Friburgo pertenciam à primeira leva de alemães que vieram substituir o trabalho escravo nas fazendas. O maior número de imigrantes, 112 pessoas, chegou em 1856 e veio contratado, em regime de parceria, pelo dono da Fazenda Sete Quedas, em Campinas, onde trabalharam em média de 10 a 20 anos para pagar as despesas de viagem e assentamento na nova terra e para amealhar um patrimônio que lhes permitisse comprar suas próprias terras.


De início plantaram café‚ com relativo sucesso, o que lhes possibilitou, inclusive, a contratação de mão de obra local, a construção de boas e amplas casas. A instalação da escola do bairro foi uma das primeiras decisões do grupo. Em 1879, a instituição de ensino começou a funcionar com 16 alunos e muitas dificuldades para conseguir um professor. Durante dez anos, quem serviu de professor às crianças da comunidade foi Niklaus Krahenbühl, que havia cursado o ginásio em sua terra natal.


A segunda luta da comunidade foi a construção do cemitério, porque era difícil levar os mortos até o Centro de Campinas. A mesma sociedade, fundada em 1879 para construir e fazer funcionar a escola, decidiu fazer o cemitério, numa luta que durou anos para conseguir autorização da Câmara Municipal e depois para conseguir que um padre fosse benzê-lo.


Porém, a comunidade seguiu próspera até que as secas e geadas e o cansaço da terra começassem a fazer os agricultores a mudar a cultura de café. Veio o “crash” de 1929, a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, e a decisão de trocar o café foi acelerada. As famílias eram grandes e dividir a terra não seria economicamente viável. Quem tinha ainda recursos, comprou terras para seus descendentes em outros locais (Monte Mor e Indaiatuba, por exemplo). Os que ficaram, passaram a plantar batatas, algodão e frutas, mas nem de perto conseguiram o sucesso financeiro do café, como observou a pesquisadora Olga Simson. Muitos foram buscar outros ofícios na cidade, venderam as terras e hoje poucos descendentes de alemães ainda têm propriedade em Friburgo. (MTC/AAN)


O NÚMERO


12 QUILÔMETROS É a distância entre o bairro Friburgo e o Centro de Campinas.


SAIBA MAIS


Friburgo vem de Friedburg, que quer dizer Castelo da Paz. Diante da violência que atinge Campinas e as cidades vizinhas, pode-se dizer que o bairro ainda é um castelo da paz, apesar de ocorrências de alguns assaltos. As famílias que fundaram o bairro são do primeiro grupo de alemães trazidos em 1846 pelo senador Nicolau de Campos Vergueiro, o principal responsável pela implantação de uma política de substituição do trabalho escravo pelo livre, que culminou com a introdução da colonização estrangeira, de cunho particular. Essa experiência aconteceu pela primeira vez na Fazenda Ibicaba, em Limeira.
 

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