ENTREVISTA – Deputado Carlos Melles: medidas para o café são primeiro passo para uma efetiva política agrícola

17 de setembro de 2009 | Sem comentários Entrevistas Mais Café

VEJA A TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA DO PRESIDENTE DA FRENTE PARLAMENTAR DO CAFÉ, DEPUTADO FEDERAL CARLOS MELLES, AO PROGRAMA NOTÍCIAS AGRÍCOLAS 2º EDIÇÃO DO CANAL TERRA VIVA, NO DIA 16 DE SETEMBRO.


1- Canal Terra Viva – A partir de abril do ano que vem, o produtor de café já poderá contar com políticas de sustentação de preços, que virão mais cedo para atender as medidas do mercado, as demandas aí do mercado. Pelo menos, essa foi a promessa feita hoje pelo ministro da agricultura Reinhold Stephanes, durante entrevista coletiva concedida para detalhar os votos do Conselho Monetário Nacional, à respeito do apoio do governo na comercialização de café, que este ano, pelo menos na opinião dos produtores, está chegando muito tarde. Entre as novas ações aprovadas pelo Conselho, estão: a prorrogação por quatro anos de financiamentos de custeio e colheita da safra 2008/2009; viabilização de duas novas linhas de créditos de R$ 100 milhões cada uma, e a redução das taxas de juros dos financiamentos do Funcafé de 7,5% para 6,75% ao ano. Além dessas medidas, o governo informou recentemente, que vai atuar novamente na formação de estoques públicos de café, através de contratos de opções de vendas, compras diretas, e as possibilidades de pagamentos de dívidas com a entrega de sacas de café, e ainda poderão retirar do mercado até 10 milhões de sacas de café. Bom, eu converso agora com o deputado Carlos Melles (DEM/MG), que apesar de estar fora do Brasil (o deputado está na França lançando o Café Cooparaíso torrado e moído e segue para Londres, onde participa oficialmente da reunião da Organização Internacional do Café – OIC), está acompanhando com atenção a evolução das medidas que estão sendo anunciadas aí. Muito boa noite deputado. Os cafeicultores estão alegando que as medidas aprovadas hoje pelo Conselho Monetário Nacional e anunciadas já há alguns dias pelo ministro da Agricultura são paliativas, não resolvem o problema do setor. O sr. concorda com isso?


Carlos Melles – Não. Eu acho agora que o governo ainda, como você colocou,  tardiamente e numa safra pequena, onde o produtor está com baixa qualidade; baixa produtividade; média de 16 a 17 sacos por hectare, confirmados pelo Conab, e custo de produção acima de R$ 340, a média. Nós temos esperança dessas medidas, porque a Frente Parlamentar, o Conselho Internacional do Café, enfim a cadeia, vinha pedindo ao governo uma solução de política agrícola. E o que o governo fez agora foi dar um posicionamento, que o Brasil terá uma política agrícola para a produção de café.


2- Canal Terra Viva- Então a gente deve entender, que apesar das medidas terem chegado tarde, existe sim uma expectativa, de que uma política concreta vai ser adotada daqui pra frente?


Carlos Melles – Os rumos foram dados. Primeiro a formação de estoque regulador é fundamental. Tirar 10 milhões de sacas de café, é um ordenamento de oferta significativo no Brasil e no mundo. Agora o mercado precisa acreditar e o governo precisa fazer. O segundo ponto é a prorrogação de todas as dívidas, que vence nesse ano até 30 de março do ano que vem. Eu só não concordo com o pagamento de 20%, o produtor não tem recurso para isso. Mas se tiver, eu acho muito bom pagar. Mas por outro, o governo franqueou através do Banco Central O produtor que entregar ao banco a sua declaração de incapacidade de pagamento, ele certamente não vai pagar nada nesse ano, porque ele tem uma produção muito pequena.


3- Canal Terra Viva – Mas umas das reclamações com relação a esse pagamento de 20%,  é que o produtor vai ficar engessado. Se ele aceitar fazer a prorrogação, o pagamento de 20% e a prorrogação dos pagamentos, ele vai ficar mesmo assim, sem acesso a novos créditos. Isso é fato, deputado?


Carlos Melles  – Eu acho que aí é o ponto chave da nossa renegociação. É o produtor denunciar a sua dívida no banco em que ele está, e o que o banco não está fazendo. Isso é fundamental. Nós estamos muito medrosos, em expor a situação real de cada produtor. Ele não precisa dar o nome e nem o CPF. Mas existe a garantia dentro do ministério da Fazenda, que seja no Banco do Brasil, seja nas cooperativas de crédito, reabre a discussão inclusive da CPR, que virou um capital de giro com a renovação de mais de 25% ao ano, que é um absurdo, quando você tem juros de 6,75%. É muito importante chamar a atenção, e nós podemos fazer um exercício daqui pra frente, que nessas renegociações, tem que haver um posicionamento de colocar o produtor em uma situação de adimplência. Onde os recursos do Funcafé desse ano, que são quase R$ 2,6 bilhões, só tem 37% aplicado, porque o produtor não pode pegar. Então essa solução é fundamental, mas nós temos que cumprir a nossa parte. Fazer a nossa declaração no banco que não podemos pagar, e nós temos a segurança do ministro, do Dr. Gerardo Fontelles, do governo, de que uma vez ele provando a sua incapacidade de pagamento, há prorrogação, isso já vem no manual de crédito agrícola. Mas eu vou ver pelo lado positivo, desde que nós iniciamos o SOS Café, a gente vinha pedindo soluções e agora elas estão vindo, ainda que não da melhor forma, mas ou seja, a troca de dívidas por produto. Isso não vai entregado de uma vez, então o preço de R$ 261, mas como ninguém vai entregar café a esse preço e ninguém vai precisar pagar dívida esse ano, não entrega nada nesse ano, nós vamos rever os preços mínimos. A reabertura da CPR, eu acho bom, ótimo. O refinanciamento da colheita e do custeio, são R$ 160 milhões, então tira um garrote forte do produtor. Dos 3 milhões de sacas de café de opções, os primeiros vencem agora em novembro e essa o governo vai retirar. Não tem espaço para estar subindo da forma como está. E aí tem mais um agravante, o maior imposto que o produtor brasileiro paga hoje em qualquer cultura é o câmbio. Se o câmbio começar a cair muito, o governo vai ter quer rever outras medidas, porque com a queda da valorização do real, isso tira muito a competitividade do produtor brasileiro.


4- Canal Terra Viva – Mas o governo sabe disso né, deputado?    


Carlos Melles – Ah o governo, eu diria na expressão popular, “está careca de saber disso”, é o ônus que o produtor rural tem pago há muito tempo. A valorização da moeda, faz a agricultura a âncora mais perversa e ainda dando o superávit na balança comercial como o setor comercial vem dando. Quer dizer é transferência de renda, de patrimônio, de suor, de sangue do produtor brasileiro lá pra fora.


5- Canal Terra Viva – Deputado eu gostaria que o sr. falasse rapidamente pra gente, o que o sr. está fazendo aí na Normandia, é isso mesmo?    


Carlos Melles – Isso. Nós estamos tratando de vender alimentos e não vender mais commodities, nós estamos tendo essa esperança. Nós nos associamos, ainda que de uma maneira pequena, há uma grande cooperativa no Normandia na França, que tem uma escala de produção de carne, de ovos, de frangos, de legumes, de verduras, enfim, muito grande e já não vendem mais matéria-prima. Eles estão vendendo alimentos, o que é uma grande alternativa para todos os produtores. E eles estão começando a distribuir em suas lojas, o café torrado e moído, e é uma expectativa de que é uma experiência positiva, tem apoio do governo brasileiro e estamos aqui com a Apecs, Abic, com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Enfim estamos buscando novas alternativas de agregar renda ao produtor, diminuindo a distância do produtor ao consumidor. Eu diria que nós estamos o melhor café do mundo ao consumidor. E certamente começando com um sucesso muito grande.


6- Canal Terra Viva – Deputado Carlos Melles muito obrigada mais uma vez pela sua participação com a gente no Notícias Agrícolas, volte sempre.


Carlos Melles – Obrigado e mais uma vez eu agradeço o apoio de vocês em favor do café e do agronegócio.

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