Café – Carta Aberta de Ricardo Strenger

19 de setembro de 2009 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Café – Carta Aberta

Prezados senhores e senhoras

Neste momento crítico, recebemos a notícia de que existe um relatório de um grupo de trabalho (mais um) chamado ANÁLISE ESTRUTURAL DA CAFEICULTURA BRASILEIRA, que anuncia a morte econômica de diversos cafeicultores ou regiões cafeeiras, que não se encaixariam em certos parâmetros do tal relatório.

Todos os problemas da cafeicultura brasileira serão resolvidos como num passe de mágica através do referido relatório?

Parece que o relatório conclui que há uma parcela de cafeicultores que seriam ineficientes, e que deveriam ¨morrer”.

Gostaríamos de formular algumas perguntas, que talvez, sem ler o relatório nos esclareçam algumas dúvidas:

Quais os critérios utilizados para definir eficiência e ineficiência?

Será que é só “matar” uma porcentagem, de não se sabe quantos cafeicultores, e estaremos no paraíso?

A bomba que foi a notícia da ineficiência dos cafeicultores é incoerente, pois parece que o relatório aponta para custos entre R$240,00 – R$340,00.



  • O que significa isto?

  • Será que o eficiente é o que produz a R$240,00, e o ineficiente acima deste valor, ou será que há algum intervalo de tolerância?

  • Este custo foi elaborado para qual produtividade?
    Este custo, do relatório, se refere ao custo direto, ou o custo considera a depreciação do capital?

  • Este custo é de que região?

  • Como nos preparar para abandonar a tal cafeicultura ineficiente?

  • Como identificar os ineficientes?

  • Será que os eficientes continuarão eficientes?

  • Daqui quanto tempo os eficientes se tornarão ineficientes?

  • Como proceder para não nos tornarmos ineficientes?

  • Será que Uganda, Indonésia, Vietnã, Colômbia, Costa do Marfim, Peru, enfim, absolutamente todos os países produtores de café, são eficientes? Sendo, por que será que todos eles são mais pobres do que nós?

  • Não seria ineficiente um país que despreza 1900 municípios produtores de café, 8,4 milhões de trabalhadores, e colheu 45,99 milhões de sacas de café em 2008, e exportou 29,5 milhões de sacas de café, com um faturamento de 4,7 bilhões de dólares? (Tudo isto, segundo a introdução do Relatório de Atividades do Funcafé de 2008).

  • Não seria ineficiente um país que aloca recursos fora de hora?

  • Não seria ineficiente um país que não cumpre o Manual de Crédito Rural?

  • Não seria ineficiente um país que não fiscaliza as impurezas do café?

  • Não seria ineficiente um país que não consegue rotular o café?

  • Não seria ineficiente um país que não normatiza a qualidade do grão cru?

  • Não seria ineficiente um país que não elimina os resíduos do café?

  • Não seria ineficiente um país que elabora em 03 meses uma Agenda Estratégica do Café, que em nada ajudará o cafeicultor brasileiro, e aloca recursos da ordem de 344,5 milhões de reais?

  • Não seria ineficiente um país que sendo o maior produtor mundial de café e tem excesso de produção querer importar café?

  • Não seria ineficiente um país que nos últimos 12 anos alocou 83,1 milhões de reais para marketing, que nada produziu de positivo para a imagem do produto brasileiro no exterior?

  • Qual a relação entre o capital e a eficiência?

  • Ser eficiente é produzir mais, com melhor qualidade?

  • Qual o custo de capital necessário para se produzir mais?

  • Quais os riscos de se produzir mais e melhor?


Estas são apenas algumas perguntas que poderão nortear as ações do cafeicultor brasileiro que é “ineficiente”, ou que deseja se tornar eficiente, ou ainda, que sendo eficiente não quer se tornar ineficiente.

O relatório tem que ser urgentemente divulgado, para aqueles cafeicultores que em avaliando-o tenham possibilidade imediata de abandonar a atividade, antes que acumulem mais dívida, pois a “morte” foi anunciada, só não sabemos, ainda, de quem.

Mas, lembrem-se, que apesar de todas as dificuldades, ainda temos uma saída, que são as propostas da Associação Brasileira de Café Arábica – ABCA.

A ABCA não admite a morte de nenhum cafeicultor brasileiro. Nós da APAC sabemos dos riscos que o Paraná e a cafeicultura de montanha estão correndo em ter as suas atividades extintas.
Na cafeicultura brasileira não há ineficientes, mas há omissos. Não se omitam, lutem.


Ricardo Gonçalves Strenger
Presidente da Associação Paranaense de Cafeicultores
ricardostrenger@yahoo.com.br
Londrina, 19 de setembro de 2009

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