OPINIÃO – Relatório do governo sobre a Cafeicultura, não trás nada de novo para analisar

22 de setembro de 2009 | Sem comentários Mais Café Opinião

CLAUDIO BORGES
cjfborges@gmail.com

O relatório do governo  sobre a Cafeicultura ( que não trás nada de novo para analisar ) , aponta algumas verdades inquestionáveis ( que preferimos ignorar , como se isso fosse o remédio) , e que precisam ser analisadas à luz da razão e não da emoção… e  a partir daí o produtor buscar os melhores caminhos que convêm a cada um, mesmo que esse caminho seja mudar de ramo.

A palavra chave é competitividade…. se nós produtores rurais brasileiros não somos subsidiados, então, para mantermos no mercado temos que ser competitivos….
Sendo produtor de café de montanha ( cujos custos segundo o relatório podem chegar até a R$ 340,00 a saca ), como competir com um produtor de regiões planas ( onde o manejo é feito por máquinas e o estresse hídrico é resolvido pela irrigação) cujos custos chegam até R$ 240,00 ????

A diferença é astronômica !!

Então, se o governo artificialmente colocar os preços em patamares em torno de R$ 300,00, quem produz a R$ 240,00 a saca , vai plantar mais e ganhar muito mais que aquele produtor que tem seus custos em torno de R$300,00 a saca , que estará praticamente trocando seis por meia dúzia.

Esse preço , R$ 300,00 a saca, vai gerar excesso de produção por parte de quem produz com custos menores e cada vez ficará mais difícil segurar os preços artificiais nesses patamares…..
Não podemos, nem devemos esquecer da lei da oferta e da demanda que regula os preços no mercado de commodities.

Vejamos algumas afirmações do referido relatório:


1. A multiplicidade de regiões produtoras, com diferentes características de clima, volume e distribuição de chuvas, tipo de solo e topografia, implica em grande diversidade de modelos tecnológicos, com diferentes níveis de custos de produção; posto que, enquanto algumas regiões cafeeiras, absolutamente importantes do ponto de vista de geração de desenvolvimento regional, geração de emprego e renda, passam por indiscutível crise, outras regiões, com modelo tecnológico diverso, conseguem resistir e até mesmo proporcionar aumentos na produção cafeeira.

2. …. nas regiões de cafeicultura mais antigas e tradicionais, onde o custo de produção é mais …. devido ao uso mais intensivo de mão de obra contratada em decorrência da declividade do terreno, além do sistema de produção utilizado (cafezais mais velhos);

3. A oferta de cafés de baixa qualidade e o aumento da produção dos cafés robustas pelos produtores contribui para a depressão dos preços do café de melhor qualidade;

4. Muitos exportadores de café têm utilizado os créditos de PIS/COFINS para ganhar competitividade no mercado internacional, convertendo o crédito em renda, ao invés de repassá-lo aos produtores;

5. As informações disponíveis pelo governo e pelo próprio setor privado sobre a produção, consumo e estoques no Brasil são deficientes e constantemente questionadas;

6. É preciso diminuir a oferta de café no mercado no ano de 2010, período em que o Brasil estará em um ciclo de safra alta.

7. É preciso dosar bem a redução da oferta (por meio da ampliação dos estoques ou redução da produção), para evitar a perda de participação do Brasil no mercado internacional de café;

8. É conveniente evitar uma nova renegociação das dívidas do café, nos casos em que os produtores tem café dado como garantia a financiamentos, bem como daqueles que estão com a produção colhida ou em fase de colheita;

9. Devido ao uso intensivo de mão obra na produção cafeeira, quanto menor o custo desse fator de produção, mais competitivo é o país ou a região produtora; A produção se dá, em sua grande maioria, em países em desenvolvimento, onde há excedente de mão de obra não qualificada, de baixo custo.

10. Há uma grande tendência à geração de excedentes, cuja administração nos anos anteriores a 1989, cabia aos países produtores e que agora estão a cargo do mercado de forma geral.  O controle sobre esses excedentes acaba sendo fundamental para os preços internacionais;

11. Anote-se ainda que devido à sua importância estratégica para a economia dos países produtores, a atividade é, em muitos casos, estreitamente monitorada pelos governos desses países, que formulam políticas de apoio que acabam por garantir as atividades em períodos de crise, alongando ainda mais, os eventuais períodos de ajuste da produção aos níveis de consumo;

12. Na cafeicultura dos cerrados os pontos favoráveis são a mecanização, a boa qualidade dos cafés e a estrutura empresarial, que permite produção em grande escala.. O grande fator para redução de custos é a mecanização, que é usada em todo o processo produtivo, especialmente na colheita, que representa mais de 30% de custo total da produção de café. As dificuldades são as condições climáticas, com predominância de áreas com stress hídrico, que condicionam a necessidade crescente de irrigação. Justamente essa necessidade de irrigação proporciona-lhe também, concomitantemente, um aumento dos custos, assim como um aumento de produtividade média por hectare, podendo resultar, caso a produção seja normal, em menor custo por saca e maior competitividade. Outro fator que caracteriza as regiões de cerrado, ao menos por enquanto, é a ausência de chuva na colheita, o que eleva a qualidade média produzida impactando positivamente a renda do produtor.

13. A cafeicultura de montanha é concentrada em pequenos produtores, muitos de base familiar, explorando áreas menores. O ponto favorável é a predominância de boas condições de chuva e de solos mais ricos em matéria orgânica, com a adequada infra-estrutura para a produção e comercialização dos cafés, com proximidade dos centros consumidores e da rede portuária. As dificuldades residem na necessidade de maior uso de mão de obra, que tem sido escassa e eleva os custos de produção.

A cafeicultura de montanha proporciona também a possibilidade de produção de cafés de excelente qualidade, principalmente no sul de Minas Gerais. A cafeicultura de montanha da zona da mata de Minas Gerais, assim como a cafeicultura do arábica do Espírito Santo, que se caracterizavam no passado por apresentar qualidade específica (rio zona) hoje apresentam considerável evolução, destacando-se por produzir cafés de qualidade especial.

São áreas que produzem cafés com excelente possibilidade de substituir cafés lavados (colombianos) mediante utilização de adequados procedimentos de colheita e processamento do café colhido (“cereja descascado” ou café despolpado e desmucilado). No estado do Espírito Santo está se implementando, neste momento, em que a crise se faz presente, o programa “Renovar Arábica”, um esforço de renovação buscando implantar novas variedades em densidade adequada, buscando melhoria de produtividade média e de qualidade. No entanto, para garantir que essa produção encontre o mercado adequado é necessário nível especial de organização dos produtores, de modo a que lhes seja devidamente repassado o preço compatível com a qualidade ofertada. O sul de Minas Gerais, onde essa cafeicultura predomina, é a região brasileira melhor organizada em cooperativas de produtores, assim como por uma estrutura comercial bastante forte e competitiva, de modo que não se trata de desafio impossível.


Resumo da ópera:

Hoje se produz café em várias partes do mundo, à custos muito mais baixos que os cafés de montanha brasileiros….e isso além de matar a competitividade do café de montanha, aumenta a oferta de forma indesejada.

Em várias regiões do  Brasil se produz café mais barato que os cafés de montanha…
Com o aumento da educação do povo, a mão-de-obra para o café vai ficar a cada dia pior e mais cara….

Café de montanha só é e continuará sendo viável para a chamada agricultura familiar….. onde os custos de mão de obra são menores, pois a família trabalha na lavoura…..

Então, para aqueles produtores que ainda estão em dúvida com relação à quais os cafeicultores que  o ministro da agricultura disse que devem sair da atividade, a dúvida acabou…..

Quem tem lavoura na montanha ( e não faz parte da agricultura familiar ) está fora do mercado…. assim como a industria textil quebrou na europa e migrou para a ásia em função de baixos custos de mão-de-obra, o café de montanha vai ter que migrar para o plano… e ponto final.

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