OPINIÃO – Arabica x Conilon – Rotulagem – Uma visão “de fora da caixa”

Por: Comunidade Manejo da Lavoura cafeeira

Bom dia a todos.


Tenho acompanhado os artigos referente à “batalha épica” arabica x conilon, e o tom dos discursos, se transformado em imagens, lembraria algo como uma luta de boxe entre Myke Tyson e George Foreman.


De tudo que li, pinço alguns aspectos que me parecem o mais sensatos e realistas – e é a partir destes aspectos que deveríamos repensar todas as discussões.


[29/09/2009]
Humberto Soares
Aimorés – Minas Gerais – Estudante


“Precisamos de uma vez por todas entender que não existe mais para a indústria a tão propalada diferença entre café conilon e arábica, com pesquisa e muito trabalho chegaram a resultados que permitem no processo industrial entregar um blend final que atenda aos anseios do consumidor, inclusive os mais exigentes.” (…)


(…) “A única chance do arábica virar este jogo é ficar mais barato que o conilon, mas isso nos parece um pouco difícil, devido às características que trazem diferenças de custo bem visíveis, mas com pesquisa e muito trabalho, quem sabe… não podemos duvidar da capacidade humana em criar soluções e achar caminhos novos para velhos problemas.”


———–
Vale a pena ler o comentário todo, que reduzi por questões de praticidade.


Também vale a pena ler um outro comentário:


[30/09/2009]
Marden Cicarelli
Monte Carmelo – Minas Gerais – Produção de café


“Senhores,


De fato esta discussão está tomando rumos desnecessariamente belicosos. Como consumidor, eu quero ter o direito de saber o que estou tomando. A informação no rótulo não obrigaria a indústria a nunca alterar suas composições – isso é um ataque à minha inteligência, pois o lote e a data de validade se alteram e isso não inviabilizou a indústria. Aliás, é possível que, se a lei não lhes obrigasse, nem mesmo essa informação os rótulos trariam – em nome do aumento da margem de lucros.” (…)


“Repito: a indústria não está de lado nenhum que não o seu. Interessa a ela comprar o produto no melhor preço e vender idem (interessante como “melhor” tem duas acepções nesse caso!) Danem-se os produtores, danem-se os consumidores. É da natureza do capitalismo. Se não enxergamos isso, problema nosso.”


———–


Aqui começo o meu comentário.


Primeiramente, na linha do que disse Humberto Soares, pesquisa e muito trabalham resultaram na capacidade de produzir blends de alto nível. BLENDS. MISTURAS. Nem arábica, nem conilon. Uma mistura. Ambos são importantes. E não se iludam, nem uns, nem outros – a pesquisa e o trabalho não param. Chegara, e não tardará, o momento que uma variedade que combina o melhor das duas espécies, tanto a nível de produtividade e robustez, quanto a nível de qualidade de bebida, tomara o espaço de ambas.


Isto não é uma profecia. É uma constantação de quem olha de fora, lá de longe, para onde o trabalho sério aponta, deconectado da busca imediata e desesperado por fatias de mercado. Sim, meus caros, logo a preocupação não será em como contrapor (ou compor) arabica e robusta, mas em como resistir ao avanço incontrolável de uma nova variedade melhor que ambas!! Certamente ela virá (a genética não respeita estas questões) e trará uma nova realidade para a cafeicultura.


Tomara que isto ocorra no Brasil, e não no Vietnã. Se não, meus caros, estaremos todos “ferrados”.


——–
Agora puxo uma linha a partir do comentário de Marden Cicarelli.


Primeiro aspecto é que de fato, a indústria não quer saber de ninguém – só dela mesma. E não adianta indignação ou surpresa nesta hora – a função da empresa é gerar lucro, e só. Todo o resto faz por estrita obrigação legal ou por questões de vantagem comercial. E é assim mesmo que o coisa funciona a 1.000 anos!! E vai continuar assim.


Mas lembre-se que o produtor de café, sim, também é um empresário!! Um industrial!! Agroindustrial!! Também quer seu lucro! E dane-se o resto… não me venha falar de consciência, cooperativismo, etc. Tudo isso, como os outros industriais, se faz por sobrevivência e imagem no mercado. Isso é um fato. E que me provem do contrário os que não concordam. Então, como empresários que são, defendem seu lado… apenas questiono se o método utilizado é o mais adequado. Acho que existem métodos mais inteligentes do que ataques desenfreados.


Não defendo aqui nem um lado nem outro. Não tenho competência para tais julgamentos. Mas uma coisa é inegável: a estratégia da ABIC em informar o consumidor com suas campanhas e propagar a imagem de qualidade do café industrializado é muito INTELIGENTE. INTELIGÊNCIA é a maior arma!! Produtores, usem a vossa! Usem mais! Usem melhor!


O homem sábio escuta. O ignorante, grita. Essa é um ditado velho como o mundo…


———–


Não me estenderei muito. Mas deixo aqui uma informação que tomara seja relevante para alguém.


Existe ou não uma tecnologia capaz de analisar o blend de café??


Uns dizem que sim, outros que não. Mas ninguém mostra nada…


Bom, existe sim. Modestamente, tenho acompanhado as evoluções neste segmento específico a nível mundial nos últimos anos, e garanto que é plenamente viável. Mais que isso, sou um dos raríssimos doidos que cria (ou inventa, se preferir) métodos de analisar café. E garanto que é possível e melhor, economicamente viável.


Mais que isso, assim como o código de barras é impresso, pode-se imprimir na embalagem de cada pacote de café vendido no Brasil (e são milhões):


– Blend
– Sabor
– Aroma
– Corpo
– Fragrância
– Acidez
– Doçura
– Amargor
– Teor de impurezas (seja lá que impureza for)
– Torra
– e o que mais se quiser imprimir…


Veja, digo que pode porque a validade e lote são impressos – então qualquer informação pode ser impressa. E porque existe tecnologia para determinar cada parâmetro destes no café embalado!!


Digo que existe e mostro para quem quiser. Só que isso não é uma coisa que se mostra em um fórum. Mostra-se ao vivo, cara-a-cara. Deixo o convite a quem quiser ver.


Por último fica a provocação: se a tecnologia existe, quem vai pagar por ela? Os produtores? Os torrefadores? Ambos? Nenhum? Aí é com o mercado. Cada empresário que decida o que é bom para si, e que corra para agarrar seu pedaço. Afinal, toda empresa visa lucro…


Ao consumidor, fica o direito de escolher de quem comprar. Que no fim é quem detem o poder. Se comprar, sucesso, se não comprar, fracasso. É a lógica do mercado, para os produtores e para torrefadores.



Abraços a todos.



Gustavo de Paula
——————-
Diretor Científico
BRSensor Ltda.


Matérias relacionadas


OPINIÃO: Sobre a perda do equilíbrio – Por Mara Freitas

OPINIÃO – A lei que alegra é a lei de Deus (Em resposta ao executivo da ABIC, Sr. Nathan Herszkowicz )

OPINIÃO – ABIC, VERDADES SOBRE A ROTULAGEM DO CAFÉ – Por Nathan Herszkowicz

OPINIÃO – Nós da Associação Paranaense de Cafeicultores – APAC


OPINIÃO – Temos que rotular o café.


OPINIÃO – ? Questões sobre o café conilon – Por Ricardo Strenger


[DOC] Propostas Estratégicas Para o Café

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.