Cientistas organizam lista de alerta sobre substâncias perigosas

Por: O Globo

CIÊNCIA
24/01/2010
 
Venenos legalizados
Cientistas organizam lista de alerta sobre substâncias perigosas
 
Renato Grandelle


Cientistas organizam uma lista de alerta sobre agrotóxicos tolerados pela lei brasileira, mas que representam uma ameaça à saúde. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e enfrenta problema crônico de contaminação. Ainda em seu início, a lista já inclui 27 substâncias, cuja venda é permitida, mas sobre as quais há suspeita de causar desequilíbrios hormonais, com danos que vão de obesidade e depressão à redução da fertilidade masculina.


Os estudos serão apresentados ao Ministério da Saúde, responsável por determinar restrições ao uso de agrotóxicos. As substâncias analisadas levam muito tempo para serem eliminadas do meio ambiente.


Por isso, são contaminantes perigosos. O contato inicial acontece nas zonas de produção agropecuária e chegam às cidades através do consumo de produtos com traços dos compostos.


O grupo de pesquisa — que reúne universidades como UFRJ, Unicamp e USP, além de três sociedades científicas — diz combater uma tendência histórica do governo de só controlar substâncias após outros países tomarem a iniciativa.


— Lidamos muito mais com alguns compostos prejudiciais à saúde do que europeus e americanos — alerta Tomaz Langenbach, coordenador do Programa de Pesquisa e Manejo de Risco da UFRJ. — Aqui as moléculas se movimentam de forma diferente: como nosso clima é mais quente, há uma evaporação maior, levando mais substâncias ao ar. Os problemas chegam à comida. Se um alimento é muito consumido por aqui, a tolerância a substâncias danosas deve ser menor.


Poluição do ar também preocupa pesquisadores


Como Langenbach ressalta, a ingestão não é a única forma de intoxicação. A inalação é ainda mais perigosa — e, surpreendentemente, menos conhecida: — Não há estudos no Brasil relacionados à poluição do ar. É lamentável, porque, nos cinturões agrícolas, a população está exposta aos pesticidas aplicados nas plantações.


Langenbach compõe o grupo de pesquisas capitaneado pela Sociedade Brasileira de Mutagênese, Carcinogênese e Teratogênese Ambiental. A instituição quer propor que o governo tenha sua própria metodologia para definir que substâncias devem ser controladas.


O grupo escolheu começar seus estudos pelos agrotóxicos, mas outros compostos, cujo efeito ainda é estudado, podem ser analisados depois. Entre eles, o bisfenol A, presente em latas, embalagens e brinquedos, que teria ligação com casos de câncer e doenças cardíacas.


— Como há sempre substâncias sendo descobertas, a legislação não pode ser estática — ressalta Rúbia Kuno, integrante do grupo de pesquisadores e gerente da Divisão de Toxicologia da Companhia Ambiental de São Paulo. — Alguns compostos são perfeitamente substituíveis, e este é o caso de muitos agrotóxicos. Mas, para outras substâncias, a mudança deve ser feita de forma gradual, para que a indústria possa trocá-las por outras menos danosas.


Os pesquisadores também vão propor que o governo federal analise periodicamente os mananciais para descobrir quais substâncias estão mais concentradas na água.


— Todas as substâncias eliminadas pela urina estão nos mananciais, como restos de medicamentos e cafeína — destaca Rúbia.


— A alta concentração de qualquer uma delas é prejudicial à vida aquática. É importante, portanto, fazer algum mapeamento.

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